sexta-feira, 26 de julho de 2013

Repórter que relatou desmandos da polícia é morto a tiros no Méxicovotar



O jornalista mexicano Alberto López Bello, 28 anos, foi brutalmente assassinado na madrugada de quarta-feira (17) em Oaxaca, sul do país. O repórter cobria a nota policial para o jornal local "El Imparcial" e colaborava com um programa de rádio. Seu cadáver foi encontrado com vários tiros em um local nos arredores da cidade, junto de um córrego. "Boa noite", foi a última coisa que ele escreveu no Twitter.

Juan Diego Quesada
López teve um choque com a polícia em maio que chamou a atenção das organizações que cuidam da segurança dos jornalistas. Foi detido por policiais federais quando informava sobre o aparecimento de uma "narcomanta" [lençóis pintados com ameaças contra os inimigos dos narcotraficantes], supostamente colocada pelo crime organizado em um povoado. Os agentes suspeitavam dos informantes por terem chegado depressa demais ao lugar, mas um juiz os deixou em liberdade e determinou que a detenção havia sido ilegal.
"Tinha que voltar a depor na procuradoria esta semana sobre este caso", conta uma das últimas pessoas que o viram com vida, Sofía Valdívia, companheira de profissão na estação Radiorama Oaxaca e namorada nos últimos meses. Ela se despediu de Alberto poucas horas antes de ele aparecer morto junto com um amigo, um policial da área de inteligência da corporação local, conhecidos como "orelhas".
O jornal "El Imparcial" publicou um nota na qual relaciona diretamente sua morte ao exercício da profissão. "Demonstra a vulnerabilidade à que estão expostos os comunicadores em seu trabalho diário para informar a cidadania de forma verdadeira e oportuna", lê-se no comunicado. O governador da região, Gabino Cué, pediu que se classifique o crime como de "alto impacto" para que a procuradoria nacional cuide da investigação.
Os esforços do governo para acabar com o assassinato de jornalistas não estão dando frutos. Desde junho de 2012, quando se aprovou a lei para proteção de defensores dos direitos humanos e jornalistas, quatro repórteres foram assassinados e outros três desapareceram. "Há uma simulação do mecanismo de proteção que tanto alardeia o governo federal. Na realidade, não estão fazendo nada", opina Darío Ramírez, presidente da Artículo 19, que denuncia abusos e intimidações contra a liberdade de imprensa no México. Ramírez denunciou há meses que López Bello estava ameaçado e que as autoridades deveriam protegê-lo. O resultado é evidente demais.
Nesse tempo, nove veículos da mídia, como "El Siglo de Torreón", foram atacados com explosivos ou armas de fogo. A organização que Ramírez dirige documentou 258 agressões contra jornalistas, 40% das quais foram cometidas por funcionários públicos. "As cifras seguem no mesmo nível ou inlusive são mais altas que em anos anteriores. A lei não serviu para nada, por enquanto. A vulnerabilidade da imprensa continua a mesma", salienta.
Sofía Valdívia lembra que o jornalista assassinado vigiava suas costas. Deslocava-se pela cidade de moto porque evitava o tráfego e pensava que fosse um modo de fugir mais fácil que de carro. Quando estavam jantando em qualquer restaurante, sentava-se de frente para a porta. No Twitter trocou um dos sobrenomes. Diariamente cobria informação delicada em uma zona onde os cartéis da droga não operam de maneira tão cruel quanto em outras partes do país, mas onde continua havendo caciques locais que exercem o poder como na época medieval. "Verificava sempre se alguém o seguia."
Apaixonado por jornalismo investigativo e pelas intrigas que cercam os poderosos, López Bello vivia com seu pai em um hotel que este administra. Valdívia foi ao local onde encontraram seu cadáver e só pôde reconhecê-lo pela roupa que usava. Haviam deixado seu rosto desfigurado. "Era um excelente jornalista policial", diz, a título de epitáfio. 
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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