terça-feira, 2 de julho de 2013

Um ano e 1,7 milhão de desempregados depois, Europa repete a receita


Homem observa estação de metrô fechada, em Lisboa, durante greve geral que acontece no país nesta quinta-feira (27). O protesto, que tem duração prevista de 24h, deve atingir os transportes públicos e órgãos do governo

Luis Doncel
"Os chefes de Estado ou de governo decidiram um Pacto pelo Crescimento e o Emprego no qual se inclui a atuação que os Estados membros e a União Europeia devem empreender com o fim de retomar o crescimento, o investimento e o emprego, assim como fazer que a Europa seja mais competitiva."
Bruxelas, junho de 2013. "É necessário que a UE e os Estados membros tomem medidas para devolver a Europa ao caminho do crescimento sustentável e da criação de emprego. [...] O apoio às pequenas e médias empresas é especialmente importante nos países com altos níveis de desemprego juvenil e com a necessidade de investimentos para promover o crescimento e o emprego. O Conselho Europeu concordou por isso em lançar um novo Plano de Investimentos."
O primeiro parágrafo deste texto corresponde às conclusões da cúpula de líderes europeus do ano passado. O segundo, a dois trechos do rascunho redigido pelo Conselho de quinta e sexta-feira passadas. O objetivo dos dois encontros é o mesmo: promover a economia e o emprego. A retórica empregada nas duas ocasiões por presidentes e chefes de governo se parece como duas gotas d'água. As más notícias chegam ao analisar o resultado da reunião que completa um ano: a Europa conta hoje com 1,7 milhão de desempregados a mais que então.
Destes, quase 500 mil surgiram na Espanha, o autêntico celeiro de desempregados do continente. E o crescimento brilha por sua ausência.
Acordo e efeito
O pacto tácito entre o francês François Hollande, o italiano Mario Monti e o espanhol Mariano Rajoy conseguiu arrancar da alemã Angela Merkel um pacote para o crescimento e o emprego de 120 bilhões de euros, que deverá ser gasto em medidas com efeito imediato no crescimento. Os resultados estão à vista.
O próprio presidente do Conselho, Herman Van Rompuy, reconheceu em uma carta em março passado que se acumulavam atrasos em vários assuntos acordados na cúpula que foi apresentada como do Crescimento. Os líderes arrastam os pés na hora de implementar a assinatura eletrônica, a regulamentação da fiscalidade sobre energia, um imposto de empresascom base comum entre os 27 e alguns assuntos mais, reconheceu então Van Rompuy.
Mas os descumprimentos vão além. Esta cúpula foi apresentada como a que consagraria o princípio de recapitalização direta dos bancos. O acordo permitiria que a Espanha se livrasse de uma carga muito pesada: as dezenas de bilhões de euros que receberia para sanar seus bancos não contariam como dívida pública, se disse na época. Finalmente, não foi assim. Os ministros das Finanças da UE concluíram nestes dias as bases sobre as quais serão organizados os próximos resgates. E se contempla a possibilidade da recapitalização direta, sim, mas só como caso extremo e não como válvula de escape que sirva para aliviar a situação da Espanha.
Sem milagre
Se os resultados da cúpula de um ano atrás não foram os esperados, convém também reduzir as expectativas que os mais otimistas têm com a de sexta-feira. Os próprios altos funcionários do conselho estão há dias alertando que as medidas que os líderes acordarem agora poderão ajudar, mas em caso nenhum serão chaves para tirar a Europa do buraco. "O mais importante é recuperar a estabilidade financeira. Sem ela, não há decisão política que possa devolver o crescimento e gerar emprego", afirmava na quarta-feira uma fonte do Conselho.
"Neste último ano demos passos muito pequenos. O Banco Europeu de Investimentos fez muito menos do que prevíamos, por exemplo. O problema é a falta de decisão política, com líderes que adotaram a ideologia neoliberal", afirmou na quinta-feira nos corredores do Conselho, enquanto os chefes de Estado e de governo discutiam, o líder do grupo socialista no Parlamento Europeu, Hannes Swoboda. Dentro de um ano também estaremos nos queixando da inação dos governantes?
"Espero que não. Creio que depois das eleições alemãs poderemos ver passos mais decisivos", responde Swoboda.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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