segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Greenwald vai lançar nova mídia independente


Fundador da eBay vai desembolsar US$ 250 milhões para projeto de jornalismo independente motivado por preocupação liberdade de imprensa nos EUA.


Shobhan Saxena
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O jornalista e advogado americano Gleen Greenwald está deixando o jornal britânico The Guardianpara dirigir um grande empreendimento jornalístico que será bancado pelo empresário e filantropista Pierre Omidyar, um bilionário iraniano-americano nascido na França, fundador do website de compras eBay
 
Greenwald foi responsável pelo maior furo do The Guardian na última década, ao publicar uma série de reportagens sobre os programas de vigilância eletrônica da Agencia Nacional de Segurança (NSA) dos EUA, com base em documentos sigilosos entregues a ele por Edward Snowden, ex-prestador de serviços da NSA. 
 
Omidyar - cuja fortuna é estimada em US$ 8,5 bilhões – tem uma série de atividades filantrópicas, comerciais e políticas, e atua por meio de uma entidade de investimento chamada Omidyar Network. Ele criou, por exemplo, um fundo para apoiar empreendedores sociais “que trabalham para garantir que o nosso sistema politico seja sensível ao público”, de acordo com o seu website. O empresário tuíta muito frequentemente sobre o problema da espionagem e o quanto isso afeta as liberdades civis, além de sempre retuitar Greenwald e suas materias. 
 
O novo empreendimento jornalístico contará ainda com participação de outro jornalista investigativo de primeira linha: Jeremy Scahill, especializado em assuntos de Segurança Nacional da revista The Nation. Scahill é autor dos livros Blackwater: The Rise of the World`s Most Powerful Mercenary Army, e Dirty Wars: the World is a Battlefield, esse último publicado em abril, e que deu origem a um documentário com o mesmo título. Laura Poitras, documentarista americana, também estará no novo projeto. Greenwald e Poitras são as duas únicas pessoas que possuem os arquivos com todos os documentos secretos vazados por Edward Snowden, que recebeu asilo na Rússia em agosto. 
 
Sobre a proposta feita por Omidyar, Greenwald escreveu em seu blog que essa é "uma oportunidade única, sonho de carreira de um jornalista". Segundo ele, sua parceira com o The Guardian foi “frutífera” e a decisão de deixar o jornal britânico “não foi fácil”. Uma porta-voz do "Guardian", Jennifer Lindauer, disse em comunicado publicado no site de Greenwald: "É claro que estamos desapontados com a decisão de Glenn de seguir em frente, mas apreciamos a atração da nova função que lhe foi oferecida. Desejamos a ele o melhor”.
 
Greenwald explicou que seu papel no novo empreendimento jornalístico, além de escrever, “será o de criar todo o corpo jornalístico do zero, recrutando os profissionais e editores que dividem o mesmo ethos jornalístico”. O novo empreendimento de mídia, que vai cobrir um amplo leque de assuntos, inclusive negócios, entretenimento, tecnologia e esportes, terá escritório em Nova York, Washington D.C e São Francisco, além de uma equipe que trabalhará junto com Greenwald no Rio.
 
O jornalista Jay Rosen, autor do blog PressThink (www.pressthink.org), conversou por telefone com Omidyar sobre acordo e todo o processo de aproximação com Greenwald. O empresário iraniano-americano cogitava comprar o jornal Washington Post, que acabou sendo arrematado por Jeff Bezos, fundador da Amazon, em agosto. Nessa época ele “começou a ficar mais alarmado com as pressões sobre os jornalistas por causa dos vazamentos de investigações em Washington”, conta Rosen. Era também o momento em que estavam sendo publicadas as reportagens sobre espionagem da NSA e vieram à tona todas as ameaças ao jornalismo independente. Foi a partir daí que Omidyar começou a pensar em investir em um projeto jornalístico de grande escala, maior do que o site que ele já havia criado no Hawaí em 2010: oHonolulu Civil Beat, que cobre assuntos públicos locais, com forte viés de jornalismo investigativo. Recentemente, o site fez parceria com o Huffington Post e foi criado o HuffPost Hawaii.
 
Quando Omidyar soube que Greenwald, Laura Poitras e Jeremy Scahill planejavam criar seu próprio website, resolveu abordá-los. Várias tentativas de encontrar Greenwald foram frustradas. Mas a conversa acabou aconetecendo nesse m6es. No dia 5 de outubro chegaram à decisão de “unir as suas forças”, criando um novo tipo de organização capaz de fazer um jornalismo investigativo, feroz e independente, segundo contou na conversa com Rosen.
 
O empreendimento bancado por Omidyar – que não ficará sob as asas de seu guarda-chuva filantrópico, mas sera um negócio - vai contar com jornalistas com elevados padrões de edição, com experiência profunda em seus assuntos de cobertura, com pontos de vistas claros e espírito independente. Sua ideia é promover um tipo de jornalismo que una o melhor dos blogs de opinião com o jornalismo tradicional. Rosen conta que, várias vezes durante a conversa, Omidyar falou na necessidade de atrair bons editores, além de um excelente time de advogados, já que o tipo de jornalismo que será feito “vai desafiar algumas das pessoas mais poderosas do mundo”. Rosen perguntou a Omidyar o montante de recursos que ele está preparado para desembolsar no projeto. Para começar, os US$ 250 milhões que seriam necessários para comprar o Washington Post.

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