A informação sobre assunto de economia e política econômica é notoriamente de interesse público, como de resto o é a informação jornalística em geral. Mas, no campo econômico, dois aspectos de certa forma comprometem o efetivo esclarecimento dos leitores. Utiliza-e em demasia uma linguagem especializada e ainda o conteúdo objeto da comunicação é tradicionalmente fonte de forte controvérsia ideológica.
GUILHERME C. DELGADO
GUILHERME C. DELGADO

No primeiro caso, o leilão do Campo de Libra, a concorrência maior não foi propriamente pela vitória na licitação, afinal ganha com lance mínimo por um único consórcio ofertante; mas por passar a imagem de "fracasso" ou de "sucesso" da empreitada. O que significa cada uma dessas expressões parece pouco relevante na guerra da comunicação. E mesmo quando a idéia de sucesso ou de fracasso não "cola" com os dados objetivos da situação, o assunto aparentemente morre na cobertura midiática, sempre à busca de temas mais controvertidos.
Outro tema atual de inegável preferência da grande mídia trata do "agravamento sem precedentes" da situação externa e da situação fiscal do país, expressa pelo duplo déficit - das transações externas e das contas fiscais do setor público, estas últimas sintetizadas pela Dívida Interna Bruta (do Setor Público). A discussão, que é também de notório interesse público, está obviamente fortemente contaminada pela orquestração.
De um lado, lê-se diariamente em praticamente todos os jornais, repercutidos na TV e no rádio, sobre o caráter catastrófico das contas públicas em razão de duas situações: a) da redução significativa do ‘superávit primário" (reserva de dinheiro para pagar juros); e b) da transferência de fundos públicos do Tesouro para os bancos públicos (BNDES e Caixa Econômica), tendo em vista alavancar, a partir destes, o financiamento a setores estratégicos, segundo a leitura governamental. A aposta oficial é de que esses investimentos (subvencionados em relação às taxas internas requeridas pelo sistema financeiro) encontrem parcerias privadas, principalmente na infraestrutura, de sorte a puxar o investimento geral na economia.
Da situação externa, de repente a cobertura midiática resolveu revelar o óbvio. O país vai fechar o ano com exportações e importações de mercadorias praticamente zeradas, mas o déficit externo dos ‘Serviços' ficará ao redor de 80,0 bilhões de dólares. Só falta lembrar que a dependência em Serviços (renda do capital estrangeiro principalmente) não é nova, que esta vinha senda suprida pelas "commodities" do setor primário e que esta equação já não é mais viável. Mas essa explicação não interessa nem aos grandes formadores de opinião (midiática), nem ao governo, que, diga-se de passagem, é também protagonista de peso na batalha da (des)informação econômica.
Guilherme Costa Delgado é doutor em Economia pela UNICAMP e consultor da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário