terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Após dois anos de atuação, "El País" já é o nono maior jornal digital do Brasil


Gabriela Ferigato 01/12/2015 13:15
“Os protestos mostram que sair da miséria é o início de mais demandas”, dizia a presidente Dilma Rousseff na primeira manchete do estreante El País no Brasil. Há dois anos, precisamente no dia 26 de novembro de 2013, o reconhecido jornal espanhol apostava suas fichas na sua edição em português. Foi a primeira vez que a publicação estreou integralmente em uma língua que não a sua de origem.

Crédito:divulgação
Isabel Amorim Sicherle,diretora executiva do El País Brasil
Em seu editorial de boas-vindas ao mercado, o El País afirmava, à época, que “empreende hoje, com a sua edição on-line no Brasil, a que provavelmente seja sua maior ousadia profissional e empresarial desde a sua fundação há 37 anos”. A ousadia colheu frutos. Hoje, de acordo com o ranking da ComScore, o El País é o nono maior jornal digital do Brasil.

Em janeiro de 2014, em entrevista à IMPRENSA, Juan Luis Cebrián, fundador e primeiro diretor do veículo, previa: “Não é difícil supor que em português poderemos alcançar rapidamente a marca de um milhão de usuários únicos”. Sua profecia se viu multiplicada por três. Segundo a diretora executiva da publicação no Brasil, Isabel Amorim Sicherle, o portal já soma mais de três milhões de usuários únicos ao mês. Atualmente o Brasil aparece em terceiro lugar em termos de audiência mundial, atrás apenas de Espanha e México.

IMPRENSA – Qual o balanço que vocês fazem desses dois anos no Brasil?
Ficamos em nono lugar entre os maiores jornais digitais do Brasil. Isso é muito bacana. Se você pensar, somos um jornal pequeno. Claro que não podemos negar que fazemos parte de um grupo grande, quando falamos em cobertura internacional temos um respaldo enorme. Tenho uma equipe na Europa, uma nos Estados Unidos, uma na América Latina. Nisso acho que temos vantagem em relação aos jornais locais. Mas mesmo a cobertura brasileira, nesses dois anos era uma experiência. Pensávamos: o que será que as pessoas vão querer da gente? Como iremos nos diferenciar dos jornais locais que estão aqui há muitos anos? Estar em nono, dois anos depois, com uma equipe tão pequena, já é uma resposta que temos acertado.

E qual seria esse diferencial?
Acho que o leitor hoje vê o El País como um jornal bastante independente, isso para gente é importante. É um jornal progressista, com algumas lutas que são únicas, como democracia, minoria, direito da mulher. Muitos dizem que somos de esquerda e os de esquerda falam que estamos conservadores. Eu diria que somos independentes, é lógico que o veículo tem uma colocação que luta por esses direitos. O país está muito polarizado, acho que não somos nem um, nem outro. Estamos olhando os fatos, se precisar criticar o governo, vamos criticar. Acho que temos um pouco mais de calma para não soltar as coisas, essa coisa do furo. Um tempo atrás teve aquela história do genro do Lula [Marcelo Sato], todo mundo soltou e 15 dias depois tiveram que pedir desculpa. Ali acertamos. Esperamos para darmos a matéria com mais base. Quando julgamos que temos a informação correta e suficiente. O que queremos é que o leitor entre no site do El País e que consiga ver as principais matérias do dia do Brasil e do mundo, análises, opinião. Já trabalhei para outros jornais, inclusive para um grande jornal americano, e a parte de análises e opinião não dava audiência nenhuma. Para nós a opinião gera uma audiência enorme. As pessoas estão vindo para cá para realmente saber a nossa opinião, uma coisa mais aprofundada. 

Em um cenário tão polarizado hoje, como trabalhar e equilibrar as vozes dentro do El País?
Temos os nossos próprios articulistas da casa. Também temos colunistas que têm a sua voz independente, que é o caso da Eliane Brum, do Xico Sá e do Luiz Ruffato. Escolhemos um grupo de articulistas brasileiros que talvez em outros lugares não estavam tendo total liberdade. Outro dia a gente viu alguém na internet criticando “eles são de esquerda e é a casa da Eliane Brum”. Existe aqui uma liberdade de ouvir diversas vozes. E o que faz a gente crescer no país é a nossa pluralidade. 

Em sua opinião, quais fatores fizeram o El País ficar em nono lugar?
Pluralidade e independência. Talvez encontrou o leitor que estava cansado dessa coisa “que lado você vai?”. É uma outra visão. “Vou ali dar um respiro em um site que talvez eu me sinta mais confortável”. Acho que é mais independente. Além disso, cobertura de coisas exclusivas. Não é só Brasil, temos uma equipe enorme que ajuda. Se vou cobrir a questão da Argentina, agora com o presidente Mauricio Macri, tenho muita gente no país. 

Quem é o leitor do El País Brasil, como ele se comporta e no que diferente do leitor espanhol?
Mais do que chegar em nono lugar, percebemos que o jornal é influente. Ainda sou pequeno, mas chegamos em leitores que são formadores de opinião. Falamos com políticos, economistas, docentes, toda essa gama de pessoas. Uma coisa diferente, se você pensar "será que eles estão entrando aqui no site para olhar notícias sobre a Espanha?" Não, não estão. O leitor pode escolher entrar aqui e ir para a versão espanhola - 3% vão. O leitor não é o espanhol que está morando no Brasil. Na maioria das vezes – com exceção do recente atentado em Paris – as matérias mais lidas são sobre o Brasil. Criamos um produto local. 

Qual o tamanho da equipe brasileira?
Hoje somos em 25 pessoas, contando redação, marketing etc, entre São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Temos correspondentes em todos os países - Colômbia, Argentina, Chile etc.

Qual o modelo de negócio de vocês? Pensam em adotar o paywall?
Se algum dia resolvermos adotar o paywall será uma decisão global, e não algo feito somente no Brasil. Acho que no Brasil ainda estamos em um momento de ganhar audiência. Mas o modelo de negócio é a venda da publicidade tradicional, branded content, eventos. Pensamos no El País como uma marca, aí é ter uma pizza de receita como todos os grupos de comunicação. Um tempo atrás era publicidade, assinatura e pronto. Não dá mais. Isso é muito dinâmico, porque o mercado é dinâmico. Hoje 55% da minha audiência vêm do mobile. E quase nada da minha receita vem dele. Preciso ver como monetiza-lo. Uma parte do faturamento vem de publicidade, eventos, projetos internacionais. 

Qual é a fonte principal de receita?
Hoje eu diria que a publicidade local é importante. Depois da local, vem eventos. A parte internacional é relevante também. Estamos tentando crescer o branded content. O El País globalmente trabalha muito bem isso. Acho que nisso temos vantagens, começamos a fazer antes.

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