sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Jornais definem agressões da PM em SP como “confusão”


Lógica de guerra e violência é atenuada por certos títulos e textos; seria um jornalismo impreciso, se não fosse um jornalismo com compromissos políticos
Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)
O vídeo acima mostra a consagração da palavra “confusão” nas chamadas para os filmes da Sessão da Tarde, na Globo. A falta de imaginação do redator acaba nos fazendo rir. O problema maior é quando o jornalismo brasileiro revive o clichê para atenuar um confronto político – ou simplesmente agressões praticadas por policiais militares.
Notícia do G1, na noite de terça-feira (01): “Protesto de estudantes em São Paulo termina em confusão“.
Título no UOL, também na noite de ontem: “Após confusão, quatro são detidos em protesto contra reorganização“.
E o que dizer desta chamada na Folha, nesta quarta de manhã? “Alunos e PM entram em confusão em protesto na avenida Doutor Arnaldo“. Sim, vocês leram direito. Alunos e PM “entram em confusão”.
(Tinha uma confusão por ali, os PMs e estudantes estavam passando, olharam uns para os outros e disseram: “Vamos entrar nessa confusão?”)
Ou seja, perde-se o bom senso e até o compromisso com a gramática para se colocar panos quentes numa sequência de agressões policiais a estudantes secundaristas. Estes protestam contra o fechamento (a tal “reorganização”) de 93 escolas em todo o estado de São Paulo. Como se tratasse de uma desavença entre iguais. Ou uma briga na saída da escola.
Quando se trata de uma investida policial (uma investida política) crescente nos últimos dias, logo após o coletivo Jornalistas Livres vazar uma conversa entre burocratas da Secretaria de Educação que falavam em “guerra” contra os estudantes. Em meio a uma curiosa decisão do governador Geraldo Alckmin de não voltar atrás em uma trapalhada eleitoral histórica.
confusão
OS ORDENADORES DE CONFUSÃO
Um dos problemas cruciais do jornalismo brasileiro é o empedernido compromisso partidário, nas páginas de política, conjugado com a profunda despolitização nas páginas que o jornal não considera de política – e encaixota em cadernos com o nome de “Cotidiano”, “Metrópole”, “Geral”. Sabemos que despolitizados também fazem política – ainda que esta tenha sido definida antes, por outros seres pensantes.
Não que os jornalões sejam apenas simpáticos à perpetuação do PSDB no governo paulista. Até são. Antes disso, têm o compromisso de perpetuar determinada noção de “ordem”, em nome da qual deveríamos aceitar todo tipo de ação policial – mesmo que ao arrepio de diversas leis. Como se tivessem um comentarista de arbitragem – ou de polícia – sempre pronto a defender o juiz. “Pode isso, Arnaldo?” E ele responde: “Pode. Foi apenas uma confusão”.

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