quarta-feira, 24 de julho de 2013

Arte e gastronomia por uma neta de libaneses

Simone Mattar pesquisa food design e assina uma exposição sobre a identidade brasileira na culinária. A mostra será aberta ao público em 09 de agosto no Sesc Pompeia, na capital paulista.



São Paulo – Ela é neta de árabes e quando criança observava o pai, João Paulo Basile, um espanhol de origem libanesa, praticando o seu hobby favorito: cozinhar. Graduada em Arquitetura, Simone Mattar é atualmente uma das autoridades no Brasil na pesquisa de gastronomia e arte (food design) e a partir do dia 09 de agosto apresenta parte do seu trabalho em uma exposição chamada “Como Penso Como”, no Sesc Pompeia, na capital paulista. A mostra traz as diferentes faces da identidade brasileira por meio da culinária.
Divulgação
Simone Mattar: desenho e culinária
“A relação da família em torno da cozinha foi uma coisa que me marcou desde a infância”, conta Simone sobre a influência que o costume da família árabe, de se reunir em torno das refeições, teve sobre sua escolha profissional. O pai da artista aprendeu a cozinhar com a sogra, também de origem libanesa. “Ele cozinhava comida árabe em casa, meu pai era gourmet”, afirma. Basile, já falecido, trabalhava no mercado financeiro e tinha fazendas.

Simone conta que muitas vezes o pai levava quatro meses preparando uma refeição. Como tinha fazendas, dali mesmo vinha a carne do porco, do carneiro ou do boi. E como viajava muito, buscava insumos em partes diferentes do mundo, como madeira para defumar no Norte da Europa. “Eu lembro uma mala que ele abriu, inteira com salmão”, relata a paulistana. A fazenda da família ficava no interior, mas até a residência deles, em São Paulo, tinha metade do terreno ocupado por uma horta. As viagens da família também tinham roteiros gastronômicos.

Motivada pela paixão do pai e o gosto que tinha pela culinária e o desenho desde pequena, Simone foi estudar Design Gráfico e Desenho Industrial na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), depois Arquitetura no Mackenzie e então se especializou em Gastronomia. Ela atua como consultora para universidades nacionais e internacionais em "food design", além de ter trabalhado com "food branding", fazendo projetos para restaurantes e empresas de alimentação por 20 anos. Nos últimos anos se dedica principalmente à pesquisa e a seus projetos na área.
A exposição

Na exposição do Sesc Pompeia, Simone mostra como o homem se relaciona com a comida ao longo da história, desde os rituais totêmicos até o fast food e a gastronomia internacional atuais. Ela tenta aproximar o “comer” do “pensar”, lembrando, por exemplo, que só 4% da diversidade de alimentos que há no mundo é consumida. Em seu trabalho, a artista relaciona os movimentos mundiais com a forma de se alimentar das pessoas. “Ao meu ver, as grandes questões das artes culinárias envolvem pensamentos teóricos aplicados à humanidade em um sentido muito amplo”, afirma, em material divulgado.
Divulgação
No Sesc: ilustração dentro do bolo de rolo
A exposição será composta de várias partes, entre elas um "Lightlock" sensorial, uma espécie de antessala onde o visitante terá seus sentidos acordados por estímulos visuais, olfativos e sonoros que remetem à cultura brasileira, como cheiro de café, de bolo e tilintar de talheres. Em outra sala estará um bolo de rolo de 25 metros de tecido bordado, feito por 35 mulheres de ONGs. Na outra ponta do ambiente, em contraposição, estarão dois filmes feitos em alta tecnologia e contando a história do "food design" a partir da visão da artista.

Haverá ainda animações sobre como Simone observa a arte na culinária e também um espaço de degustação. Nesta área, ocorrerão duas sessões diárias, para trinta pessoas cada, de cerca de uma hora e meia. Os visitantes serão entretidos por atores que declamam textos e encarnam personagens relacionados aos pratos. O cardápio tem como inspiração momentos e personalidades da história brasileira. Nele estão, por exemplo, uma luminária comestível feita de filigrana de mandioca, uma escultura de porcelana, de onde sai uma banana-ouro feita de mousse com canela e recheio de doce de banana, em referência ao Brasil de Carmen Miranda.
A neta
Simone afirma que tem muita vontade de se aproximar e trabalhar com a comunidade árabe no Brasil, apesar de ainda não ter tido oportunidade para isso. Como faz workshops, dá palestras e consultorias em "food design" para universidade estrangeiras, afirma que gostaria muito de fazer isso em alguma instituição árabe. Ela afirma que os seus desenhos lembram muito os desenhos árabes, com traços do barroco português.
O avô materno da artista nasceu no Líbano e a avó também tem origem libanesa, apesar de ter nascido no Brasil. A família do pai é da Espanha, mas também possui ascendência libanesa e morava, antes de vir para o Brasil, em Cádis, cidade que tem grande influência árabe e é habitada principalmente por pessoas vindas do mundo árabe. Entre as comidas árabes, uma das preferidas de Simone é Chich Barak, um prato parecido a um capeletti, com coalhada.
Serviço:
Como Penso Como – Mostra de food design
De 09 de agosto a 08 de setembro
Sesc Pompeia – Rua Clelia, 93 – Pompeia – SP
Visitação: terça a sábado, das 10h às 20h, domingos e feriados, das 10h às 19h
Desgustação: quarta a sábado, 18h e 21h, e domingos e feriados, 13h e 16h. Ingressos nas bilheterias do Sesc Pompeia.
Entrada gratuita e livre.

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