sábado, 7 de setembro de 2013

Decisão de Obama sobre Síria parece com ação contra o Iraque, mas há diferenças

Amparado por evidências questionáveis reveladas ao mundo por seu secretário de Estado, diante de uma nação dividida e passando deliberadamente por cima da ONU, o presidente norte-americano surpreende a todos e avisa que vai atacar um país do Oriente Médio.

SÉRGIO DÁVILA

Foi o que George W. Bush fez em 17 de março de 2003, dias antes de invadir o Iraque, depois de Colin Powell anunciar que os EUA haviam comprovado que o governo de Saddam Hussein tinha capacidade de produzir armas de destruição em massa (o que se mostraria uma inverdade).
É o que Barack Obama faz agora, dez anos depois, ao dizer na tarde de sábado que os EUA devem agir militarmente contra alvos do regime sírio, após John Kerry afirmar que está claro que Bashar al-Assad usou armas químicas (o que ainda não foi 100% comprovado).
Mudam os atores, o filme é o mesmo? Mais ou menos.
Bush quis esticar o crédito de boa vontade mundial conseguido após o ataque da Al-Qaeda ao World Trade Center (2001), que resultou na Guerra do Afeganistão, com ação militar autorizada pelo Congresso e avalizada pelas principais potências mundiais.
Perdeu-se porque, no Iraque, cumpria uma agenda pessoal, quase uma vendeta de faroeste. No anúncio, feito solitariamente num corredor interno da Casa Branca, o republicano mencionava Saddam e seus filhos e dava um ultimato a eles: saiam do poder ou encarem as consequências.
Ontem, Obama seguiu outro roteiro. Acompanhado do vice-presidente, Joe Biden, sob o sol do jardim da residência  presidencial, disse que, embora não precise, o líder da "democracia constitucional mais antiga do mundo" pedirá autorização ao Congresso para agir.
Bush se isolou antes mesmo de o primeiro míssil ser disparado. Obama divide o peso da decisão com senadores e deputados. Além disso, diferentemente de seu antecessor, que no auge do conflito enviou dezenas de milhares de soldados para o front, o presidente do "drone", que intensificou o uso dos aviões não tripulados, só fará ataques pontuais por ar.
É uma grande diferença. Quando ele atacar --já parece ser uma questão de "quando", não de "se"--, fará sem baixas do lado norte-americano e com o Legislativo ao seu lado. O resto do mundo continua sendo ignorado, mas o público interno tenderá a estar mais unido.

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