Durante a maior parte dos 200 mil anos de história do Homo Sapiens o crescimento populacional foi lento. Segundo dados históricos de Angus Maddison, a população mundial era de 226 milhões de habitantes no ano 1 da era Cristã e gastou mais de um milênio e meio para dobrar de tamanho.
José Eustáquio Diniz Alves
O crescimento demográfico que era lento, se acelerou depois da Revolução Industrial e Energética e entrou em um ritmo exponencial no século XX, quando a população do globo aumentou cerca de 4 vezes, passando de 1,56 bilhão de habitantes em 1900 para 6,1 bilhões de habitantes no ano 2000, um acréscimo de 4,5 bilhões de pessoas em apenas 100 anos.
O ritmo de crescimento demográfico se desacelerou no século XXI, mas como o volume populacional já era elevado, houve um acréscimo de 1 bilhão de habitantes somente entre 2000 e 2011. A Divisão de População da ONU estima, na projeção média, que a população mundial alcance 10,9 bilhões de habitantes em 2100. Se esta projeção se confirmar, o século XXI terá o maior acréscimo absoluto no volume populacional de todos os tempos, com um aumento de 4,8 bilhões de habitantes entre 2000 e 2100.
Cabe então a pergunta: o mundo já ultrapassou o tamanho ótimo e entrou numa fase de superpopulação?
Não existe consenso entre os demógrafos sobre o “tamanho ótimo” da população. Mesmo porque é preciso saber ótimo para quem? Para odesenvolvimento econômico? Para a grandeza dos países? Para a grandeza das religiões? Para a grandeza da própria humanidade? Ou para a preservação da biodiversidade, dos ecossistemas, das demais espécies e da saúde do Planeta?
O ambientalista Dave Foreman, por exemplo, no livro “Man Swarm and the Killing of Wildlife” (O enxame de gente e a matança de animais selvagens) considera que a população humana já ultrapassou todos os limites do Planeta e propõe uma redução de 70% no número de pessoas na Terra para dar espaço a grandes áreas convertidas em reservas para a biodiversidade e os grandes mamíferos (rewilded). Ele considera que em defesa da vida selvagem a população mundial deveria voltar para a casa de 2 bilhões de pessoas. Ele propõe também políticas de restrição à migração.
Evidentemente as ideias de Foreman não representam o pensamento majoritário da sociedade e muito menos as recomendações consensuadas nos acordos mundiais. A Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD) realizada na cidade do Cairo, em 1994, coloca como meta a necessidade da estabilização da população mundial. Mas não definiu quando e em que nível.
O fato é que a população mundial vai continuar crescendo pelo menos até 2050, em decorrência da “inércia demográfica”. Todavia, pode ser que a estabilização demográfica seja alcançada na segunda metade do século XXI ou na primeira metade do século XXII.
Por conta disto, é preciso cuidar para que o “enxame de gente” não faça desaparecer os enxames de abelha, que são fundamentais para a polinização das plantas e para o florescimento da vida animal na Terra. Ao contrário dos humanos, as abelhas possuem uma relação simbiótica com a natureza, pois, ao se alimentar do polem de planta em planta, elas garantem a reprodução das mesmas.
Quanto mais abelhas houver no mundo, melhor para o meio ambiente. O mesmo não se pode dizer da espécie humana que, na prática, não conhece o que é simbiose e tem uma relação de exploração e dominação que provoca a degradação da natureza. Historicamente, o progresso humano tem se dado às custas do regresso ambiental.
É neste sentido que surgem propostas como a “RewildingEuropa”que quertornar a Europaum lugarmais selvagem,commuito mais espaço para os processos da vida natural, trazendo de volta a variedade de vida e incrementando a biodiversidade. Cresce o número de pessoas que defendem a ideia de que o mundo precisa ficar mais selvagem (com maior biodiversidade) e menos degrado pelos humanos (Rewilding the World – Reselvagerizar o mundo). Na mesma linha, o The Rewilding Institute tem como missãopromover ideias e estratégias para avançar na conservação da vida selvagem. O homo sapiens tem sido o superpredador da Terra e não tem rival na cadeia alimentar. Só ele mesmo pode se autolimitar e garantir espaço para as demais formas de vida do Planeta.
Referências:
- FOREMAN, Dave. Man Swarm and the Killing of Wildlife
- Fonte: Maddison. Historical Statistics of the World Economy: 1-2008 ADhttp://www.ggdc.net/maddison/Maddison.htm
- UN/ESA. World Population Prospects: The 2012 Revision,http://esa.un.org/unpd/wpp/index.htm
- RewildingEuropa: http://www.rewildingeurope.com/
- Rewilding the World: http://www.rewildingtheworld.com/
- The Rewilding Institute: http://rewilding.org/rewildit/
- ALVES, JED. População e consumo: onde está o problema? EcoDebate, RJ, 14/12/2011
- ALVES, JED. Por um mundo mais selvagem!, EcoDebate, RJ, 14/08/2013
- ALVES, JED. Novas projeções da população mundial até 2100. EcoDebate, RJ, 12/07/2013
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
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