Defende que os filhos durmam na cama dos pais e que se dê o máximo de colo às crianças. É contra os castigos e a imposição de limites. O pediatra espanhol Carlos González relembra os instintos básicos de todos os pais.
Redação
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Então, não conseguem mesmo dar de mamar sozinhas?
Amamentar pode ser muito cansativo. É preciso acordar à noite, por vezes mais do que uma vez, para dar de mamar, ir trabalhar no dia seguinte e conciliar isso com todas as outras coisas que uma recém-mãe tem de fazer.
O problema é que pomos as necessidades das mães e das crianças no final das prioridades. O trabalho é cansativo, tem de fazer-se entre determinadas horas e não se pode falhar. Além disso, é preciso fazer muitas outras coisas. Mas ninguém diz às mães para não passarem a roupa a ferro ou para não fazerem o jantar, por exemplo. Em vez disso, dizem-lhes para não pegar no bebé ao colo ou para não ligar quando ele chora. Mas isso é que não se pode deixar de fazer. Se não passarem a roupa a ferro não acontece nada. Mas quando o bebé chora quer dizer que se passa alguma coisa.
Ainda se fala muito em horários para dar de mamar. Mas a maioria dos bebés não cumpre um horário regular…
A maioria dos bebés mama umas 10 vezes por dia. Mas também pode mamar 8, 10 ou 12. É normal mamar um pouco, soltar a mama e, passado um pouco, voltar a mamar. Não deve haver horas marcadas para dar mama, o bebé é que decide. Mas se um bebé mama 25 vezes por dia, às vezes está uma hora ao peito e passa o dia a chorar pode ser sinal de que não está a mamar bem. Pode, por exemplo, não estar a pegar bem na mama. Neste caso, a mãe precisa de ajuda de um grupo de mães, de uma enfermeira ou de um pediatra que perceba de amamentação.
O normal é os bebés não terem regras para mamar?
Sim. Quer dizer, os bebés não mamam de três em três horas ou de quatro em quatro horas, mas também não mamam de hora a hora ou de duas em duas horas. Normalmente, um bebé mama três ou quatro vezes muito seguidas e depois pode dormir várias horas consecutivas.
Ainda há muito a ideia de que os bebés só comem e dormem. De onde vem esta ideia?
Não sei. Eu acho estranho que as mães digam «tenho um bebé muito bom, só come e dorme», mas que nenhuma mãe diga «tenho um marido muito bom, só come e dorme». Não é bom só comer e dormir. Isso não é ser bom. Usamos classificações morais erradas para os bebés. Um adulto é mau quando mata, quando rouba, mas um bebé é mau quando chora. Não tem lógica. Isso não é ser mau, é ter instinto.
A maioria dos bebés mama umas 10 vezes por dia. Mas também pode mamar 8, 10 ou 12. É normal mamar um pouco, soltar a mama e, passado um pouco, voltar a mamar. Não deve haver horas marcadas para dar mama, o bebé é que decide. Mas se um bebé mama 25 vezes por dia, às vezes está uma hora ao peito e passa o dia a chorar pode ser sinal de que não está a mamar bem. Pode, por exemplo, não estar a pegar bem na mama. Neste caso, a mãe precisa de ajuda de um grupo de mães, de uma enfermeira ou de um pediatra que perceba de amamentação.
O normal é os bebés não terem regras para mamar?
Sim. Quer dizer, os bebés não mamam de três em três horas ou de quatro em quatro horas, mas também não mamam de hora a hora ou de duas em duas horas. Normalmente, um bebé mama três ou quatro vezes muito seguidas e depois pode dormir várias horas consecutivas.
Ainda há muito a ideia de que os bebés só comem e dormem. De onde vem esta ideia?
Não sei. Eu acho estranho que as mães digam «tenho um bebé muito bom, só come e dorme», mas que nenhuma mãe diga «tenho um marido muito bom, só come e dorme». Não é bom só comer e dormir. Isso não é ser bom. Usamos classificações morais erradas para os bebés. Um adulto é mau quando mata, quando rouba, mas um bebé é mau quando chora. Não tem lógica. Isso não é ser mau, é ter instinto.
Mas por que é que os pais só querem que os filhos durmam e comam?
Há uma pressão social muito grande. Exige-se à mãe que vá trabalhar, mas como pode a mãe trabalhar se o filho precisar muito dela? Então queremos um bebé que não precise da mãe, um bebé que possamos deixar no berço e só ir lá buscá-lo quando nos der jeito. Isto é irreal, os bebés não são assim. Os bebés precisam de atenção, precisam de contacto, precisam de pessoas que lhes dispensem 24 horas por dia.
O seu livro chama-se “Bésame mucho, como criar os filhos com amor”. Brazelton também defende que o primeiro instrumento para criar os filhos é o amor, mas seguido da disciplina. Na sua opinião, onde entra a disciplina?
Não acredito muito na disciplina. O problema da disciplina é que há muitas interpretações para o conceito. Com algumas dessas interpretações eu estaria de acordo, embora não lhe chamasse disciplina.
Mas com outras interpretações não estou nada de acordo. Isto é um problema, porque quando se fala em disciplina cada pessoa entende uma coisa diferente. Por exemplo, se eu estivesse aqui com o meu filho, deixaria que ele pintasse o sofá com um marcador? Claro que não. Mas deixaria que corresse por aqui? Claro que sim. Não estaria sempre a dizer «está quieto». Há coisas que uma criança pode fazer e outras que não pode. Mas não estou de acordo com as pessoas que dizem que temos de proibir coisas para as crianças aprenderem. Em Espanha há um livro que se chama «O não que ajuda a crescer». Quando eu digo a uma criança para não estragar uma coisa, estou a ensinar-lhe a não estragar essa coisa. Mas algumas pessoas acreditam que ao dizer-se «não» está a ensinar-se a criança a controlar-se, a obedecer, a ter disciplina. Dizem que é importante pôr-lhe regras, pôr-lhe limites. Porquê? Elas não precisam de limites porque já os têm.
Há uma pressão social muito grande. Exige-se à mãe que vá trabalhar, mas como pode a mãe trabalhar se o filho precisar muito dela? Então queremos um bebé que não precise da mãe, um bebé que possamos deixar no berço e só ir lá buscá-lo quando nos der jeito. Isto é irreal, os bebés não são assim. Os bebés precisam de atenção, precisam de contacto, precisam de pessoas que lhes dispensem 24 horas por dia.
O seu livro chama-se “Bésame mucho, como criar os filhos com amor”. Brazelton também defende que o primeiro instrumento para criar os filhos é o amor, mas seguido da disciplina. Na sua opinião, onde entra a disciplina?
Não acredito muito na disciplina. O problema da disciplina é que há muitas interpretações para o conceito. Com algumas dessas interpretações eu estaria de acordo, embora não lhe chamasse disciplina.
Mas com outras interpretações não estou nada de acordo. Isto é um problema, porque quando se fala em disciplina cada pessoa entende uma coisa diferente. Por exemplo, se eu estivesse aqui com o meu filho, deixaria que ele pintasse o sofá com um marcador? Claro que não. Mas deixaria que corresse por aqui? Claro que sim. Não estaria sempre a dizer «está quieto». Há coisas que uma criança pode fazer e outras que não pode. Mas não estou de acordo com as pessoas que dizem que temos de proibir coisas para as crianças aprenderem. Em Espanha há um livro que se chama «O não que ajuda a crescer». Quando eu digo a uma criança para não estragar uma coisa, estou a ensinar-lhe a não estragar essa coisa. Mas algumas pessoas acreditam que ao dizer-se «não» está a ensinar-se a criança a controlar-se, a obedecer, a ter disciplina. Dizem que é importante pôr-lhe regras, pôr-lhe limites. Porquê? Elas não precisam de limites porque já os têm.
Como assim?
Há vários livros que ensinam os pais a pôr limites aos seus filhos. Mas alguém acredita que uma mãe ou um pai deixe, por exemplo, o filho beber lixívia porque não sabe pôr-lhe limites? É preciso comprar um livro para saber que não se pode deixar uma criança beber lixívia? Todos os pais sabem. Então o que ensinam esses livros? Ensinam a proibir coisas às crianças porque sim. Ou seja, a criança quer fazer uma coisa que não é má, que não prejudica ninguém, que não custa dinheiro, que não faz mal ao ambiente, uma coisa que eu tenho tempo para lhe dar, que eu lhe posso dar. Mas eu vou dizer-lhe «não» porque há um livro que diz que é preciso pôr limites às crianças dizendo «não». Se se pode dizer que sim, diga-se que sim.
Deve dizer-se que sim a uma criança sempre que possível?
Deve dizer-se sim quando se acha que se pode dizer que sim e não quando se acha que se deve dizer não. Como se faz com todas as outras pessoas e não é preciso comprar um livro que ensine isso. Ninguém acredita que seja bom para um adulto ter limites. Temos limites, obviamente. Uns gostavam de ganhar mais, outros gostavam de passar férias nas ilhas Seicheles, ou ter um carro maior e ninguém diz «ainda bem que tenho limites, são bons para mim porque cresço como pessoa». Pelo contrário, tentamos superar os limites. Então por que acreditamos que para as crianças são bons? Se uma criança tem nota três numa disciplina e justifica dizendo que é o seu limite, os pais dizem que não pode ser, dizem-lhe que estude mais para ter um cinco. Nenhum pai quer que o filho fracasse. Então para que se empenham em dizer que não, em pôr-lhes limites, em dar-lhes disciplina? Se, afinal, os pais querem que ele consiga sempre ter o que deseja? Se a criança quiser brincar com este papel, se quiser estar ali em vez de estar aqui, por que não deixá-la? Se queremos que, pela vida fora, os nossos filhos consigam fazer tudo o que querem temos de educá-los para levar a sua avante, para fazer o que lhes apetece, desde que isso não prejudique ninguém.
Há vários livros que ensinam os pais a pôr limites aos seus filhos. Mas alguém acredita que uma mãe ou um pai deixe, por exemplo, o filho beber lixívia porque não sabe pôr-lhe limites? É preciso comprar um livro para saber que não se pode deixar uma criança beber lixívia? Todos os pais sabem. Então o que ensinam esses livros? Ensinam a proibir coisas às crianças porque sim. Ou seja, a criança quer fazer uma coisa que não é má, que não prejudica ninguém, que não custa dinheiro, que não faz mal ao ambiente, uma coisa que eu tenho tempo para lhe dar, que eu lhe posso dar. Mas eu vou dizer-lhe «não» porque há um livro que diz que é preciso pôr limites às crianças dizendo «não». Se se pode dizer que sim, diga-se que sim.
Deve dizer-se que sim a uma criança sempre que possível?
Deve dizer-se sim quando se acha que se pode dizer que sim e não quando se acha que se deve dizer não. Como se faz com todas as outras pessoas e não é preciso comprar um livro que ensine isso. Ninguém acredita que seja bom para um adulto ter limites. Temos limites, obviamente. Uns gostavam de ganhar mais, outros gostavam de passar férias nas ilhas Seicheles, ou ter um carro maior e ninguém diz «ainda bem que tenho limites, são bons para mim porque cresço como pessoa». Pelo contrário, tentamos superar os limites. Então por que acreditamos que para as crianças são bons? Se uma criança tem nota três numa disciplina e justifica dizendo que é o seu limite, os pais dizem que não pode ser, dizem-lhe que estude mais para ter um cinco. Nenhum pai quer que o filho fracasse. Então para que se empenham em dizer que não, em pôr-lhes limites, em dar-lhes disciplina? Se, afinal, os pais querem que ele consiga sempre ter o que deseja? Se a criança quiser brincar com este papel, se quiser estar ali em vez de estar aqui, por que não deixá-la? Se queremos que, pela vida fora, os nossos filhos consigam fazer tudo o que querem temos de educá-los para levar a sua avante, para fazer o que lhes apetece, desde que isso não prejudique ninguém.
Às vezes, é difícil convencê-los de que não podem fazer alguma coisa, mesmo quando isso prejudica alguém.
Por exemplo, se a criança quer atirar uma coisa pela janela. Não vou deixar, claro. Mesmo que proteste, que chore. É igual. Não vou deixar jamais. Mas não vou dizer-lhe «não e não», a gritar, e deixá-la a chorar sozinha. Digo-lhe: «Não podemos mandar coisas pela janela, mas podemos brincar com este jogo». Mas, imaginemos que o meu filho me pede um gelado e eu não quero dar-lhe um gelado porque tem açúcar ou porque faz mal aos dentes. Se o meu filho desata a chorar, atira-se para o chão, bate com a cabeça na parede. Bem, então dou-lhe o gelado. E não é mau mudar de opinião. Digo-lhe: «Não sabia que te apetecia tanto um gelado». E nenhum pai perde autoridade por isso. Franco e Salazar nunca mudaram de opinião. Agora os governos mudam de opinião. Dizem uma coisa, há manifestações na rua, mudam de opinião. E as pessoas preferem este governo. Antes, tinham medo, mas não tinham respeito.
Os pais ensinam os filhos com os seus exemplos. Se dizem que não, a gritar, estão a ensinar-lhes a ser inflexíveis. Se dizem, com maus modos «se queres a porcaria do gelado toma lá o gelado», estão a ensinar-lhes a ser vingativos. Se dizem «se queres tanto um gelado, eu dou-to, mas não podes abusar, é um e nada mais», estão a ensinar-lhes a ser razoáveis, a negociar.
Mesmo assim, há crianças que acabam por dominar os pais. Chamam-lhes crianças tiranas ou crianças ditadoras.
Os pais é que são tiranos. Uma criança levanta-se de manhã, à hora que os pais a acordam, vai ao colégio que os pais escolheram, veste a roupa que os pais compraram. E por aí adiante. E, na maioria das vezes, a criança fazem tudo isto sem protestar. Todos os dias recebem ordens sobre tudo o que devem fazer. A criança tem de obedecer tantas vezes, que chega um momento em que começa a ficar nervosa. Há um momento em que explode por algo que aos pais parece uma parvoíce, como querer uma pastilha elástica.
Mas há crianças que pedem mais do que uma pastilha, que estão sempre a exigir coisas aos pais.
As crianças obedecem-nos continuamente. E o que mais gostam no mundo é de ver os seus pais contentes. E tentam por todos os meios que os seus pais estejam contentes. Só que às vezes não sabem. E às vezes não podem. Por exemplo, uma criança de dois anos que acorda a meio da noite e chora. Uma vez, duas vezes. A mãe ou o pai diz-lhe: «se dormires a noite toda, amanhã dou-te uma bicicleta». Ela acorda na mesma.
Por exemplo, se a criança quer atirar uma coisa pela janela. Não vou deixar, claro. Mesmo que proteste, que chore. É igual. Não vou deixar jamais. Mas não vou dizer-lhe «não e não», a gritar, e deixá-la a chorar sozinha. Digo-lhe: «Não podemos mandar coisas pela janela, mas podemos brincar com este jogo». Mas, imaginemos que o meu filho me pede um gelado e eu não quero dar-lhe um gelado porque tem açúcar ou porque faz mal aos dentes. Se o meu filho desata a chorar, atira-se para o chão, bate com a cabeça na parede. Bem, então dou-lhe o gelado. E não é mau mudar de opinião. Digo-lhe: «Não sabia que te apetecia tanto um gelado». E nenhum pai perde autoridade por isso. Franco e Salazar nunca mudaram de opinião. Agora os governos mudam de opinião. Dizem uma coisa, há manifestações na rua, mudam de opinião. E as pessoas preferem este governo. Antes, tinham medo, mas não tinham respeito.
Os pais ensinam os filhos com os seus exemplos. Se dizem que não, a gritar, estão a ensinar-lhes a ser inflexíveis. Se dizem, com maus modos «se queres a porcaria do gelado toma lá o gelado», estão a ensinar-lhes a ser vingativos. Se dizem «se queres tanto um gelado, eu dou-to, mas não podes abusar, é um e nada mais», estão a ensinar-lhes a ser razoáveis, a negociar.
Mesmo assim, há crianças que acabam por dominar os pais. Chamam-lhes crianças tiranas ou crianças ditadoras.
Os pais é que são tiranos. Uma criança levanta-se de manhã, à hora que os pais a acordam, vai ao colégio que os pais escolheram, veste a roupa que os pais compraram. E por aí adiante. E, na maioria das vezes, a criança fazem tudo isto sem protestar. Todos os dias recebem ordens sobre tudo o que devem fazer. A criança tem de obedecer tantas vezes, que chega um momento em que começa a ficar nervosa. Há um momento em que explode por algo que aos pais parece uma parvoíce, como querer uma pastilha elástica.
Mas há crianças que pedem mais do que uma pastilha, que estão sempre a exigir coisas aos pais.
As crianças obedecem-nos continuamente. E o que mais gostam no mundo é de ver os seus pais contentes. E tentam por todos os meios que os seus pais estejam contentes. Só que às vezes não sabem. E às vezes não podem. Por exemplo, uma criança de dois anos que acorda a meio da noite e chora. Uma vez, duas vezes. A mãe ou o pai diz-lhe: «se dormires a noite toda, amanhã dou-te uma bicicleta». Ela acorda na mesma.
O que é que a faria dormir?
Ela não está a querer irritar os pais. Não chora para que comprem isto ou aquilo. Ela chora, essencialmente, porque quer a sua mãe ou seu pai. Não quer outra coisa. Os pais podem comprar-lhe tudo o que quiserem que ela continuará a chorar. Se estiverem ali com ela, acabará por se calar.
Mas os pais vivem pressionados para não darem muito mimo aos filhos, para não os habituarem ao colo.
Isso é como se alguém evitasse ir ao cinema para não se habituar. É um disparate. Então por que é que pomos fraldas aos bebés? Não queremos que eles andem de fraldas toda a vida. Um bebé precisa de colo, precisa de mama e de usar fraldas. Uma criança grande não precisa, é claro. É muito triste que obriguem os pais e as crianças a esse sofrimento, apenas por causa de um mito. Os pais querem dar colo aos seus bebés. Muitos pais já me disseram que têm vontade de pegar os seus filhos ao colo quando os vêem chorar, mas não o fazem porque lhes dizem que o bebé se habitua ou que fica muito mimado. Os pais não precisam de justificações para pegar nas suas crianças. É instintivo. E deixam de o fazer porque alguém os proíbe?
Ela não está a querer irritar os pais. Não chora para que comprem isto ou aquilo. Ela chora, essencialmente, porque quer a sua mãe ou seu pai. Não quer outra coisa. Os pais podem comprar-lhe tudo o que quiserem que ela continuará a chorar. Se estiverem ali com ela, acabará por se calar.
Mas os pais vivem pressionados para não darem muito mimo aos filhos, para não os habituarem ao colo.
Isso é como se alguém evitasse ir ao cinema para não se habituar. É um disparate. Então por que é que pomos fraldas aos bebés? Não queremos que eles andem de fraldas toda a vida. Um bebé precisa de colo, precisa de mama e de usar fraldas. Uma criança grande não precisa, é claro. É muito triste que obriguem os pais e as crianças a esse sofrimento, apenas por causa de um mito. Os pais querem dar colo aos seus bebés. Muitos pais já me disseram que têm vontade de pegar os seus filhos ao colo quando os vêem chorar, mas não o fazem porque lhes dizem que o bebé se habitua ou que fica muito mimado. Os pais não precisam de justificações para pegar nas suas crianças. É instintivo. E deixam de o fazer porque alguém os proíbe?
O mesmo se passa com dormir na cama dos pais. Os pais têm vontade de dormir com os filhos, mas sentem-se culpados se isso acontece.
Todos dormimos algumas vezes na cama dos pais. É perfeitamente normal. Muitas vezes, esses momentos são das recordações mais bonitas que temos de infância. Alguns pais dormem com os filhos algumas vezes, outros dormem com os filhos todas as noites. O importante é que cada um decida por si. Dizem que os bebés têm de habituar-se a dormir sozinhos. Para quê? A maior parte das pessoas, durante a maior parte da vida, não dorme sozinha. Portanto, se for verdade que se possam habituar a alguma coisa, é melhor que se habituem a dormir acompanhados, pois é assim que vão dormir a maior parte da vida. (risos) Chega a uma idade em que eles não vão querer dormir com os pais, de certeza.
Há muitos bebés que choram assim que chega a hora de dormir ou choram muito quando estão cheios de sono. Porquê?
Os bebés sabem que quando dormem a sua mãe vai embora. Como não querem ficar sozinhos, fazem força para não dormir.
As creches são boas para as crianças?
Nem sempre são más, mas não são boas. As creches não foram inventadas porque os bebés ou as mães precisavam. São os empresários que precisam das creches porque querem que as mães deixem os bebés e vão trabalhar. Na União Soviética não havia creches porque as mães tinham três anos de licença de maternidade.
O ideal seria as mães ficarem em casa três anos?
O ideal seria que a criança ficasse com a sua família. Durante os primeiros meses teria de ser a mãe porque é a mãe que lhe dá mama. Depois, poderia ser a mãe ou o pai. A criança está sempre melhor com a sua família. Em Espanha, legalmente, pode haver oito crianças por educadora. Mas se uma mulher está grávida e na primeira ecografia lhe dizem que vai ter oito bebés, ela começa logo a pensar em quem poderá ajudá-la a cuidar das crianças. No entanto, deixam-se oito crianças com uma mulher, provavelmente mal paga, que nem sequer é sua mãe. Alguém acredita que ela vai cuidar tão bem delas como a mãe? Ou que as crianças se vão sentir melhor do que em casa? Ou que vão melhorar o seu desenvolvimento psicomotor porque aprendem mais na creche? Na creche não vão aprender nada. As educadoras mal têm tempo para mudar fraldas e dar biberões, quanto mais para ensinar-lhes alguma coisa. Uma creche com três crianças por educadora seria quase tão bom como estar em casa. Não seria melhor do que estar em casa.
E a partir dos três anos?
Para a maioria das crianças, os três anos são o limite para começarem a separar-se da sua mãe sem problema. Porque já são capazes de entender que ali estão bem e que a mãe vem buscá-los ao final da tarde. Uma criança de dois anos não entende isso. Não sabe onde está a mãe, não sabe que ela vai buscá-la às cinco.
Os bebés não percebem que a mãe vai voltar, mesmo quando volta todos os dias? Não acabam por se habituar?
Não podem saber. E não se habituam. Se um marido volta do trabalho todos os dias às cinco horas. E, de repente, todas as terças-feiras passa a chegar às sete sem dar uma razão à mulher. Ela fica descansada? Não. Cada vez fica mais nervosa. A repetição não tranquiliza a criança. Ainda a põe mais nervosa. E isso percebe-se nos primeiros dias dos jardim-de-infância. As crianças que estiveram em creches choram mais do que as crianças que estiveram em casa até aos três anos.
Também há bebés que só choram quando a mãe ou o pai os vai buscar à creche.
É lógico. Choramos quando há alguém que nos possa consolar. Há quem diga que as crianças choram para manipular os pais. Claro. Todos choramos para manipular alguém. É nisso que consiste. É uma maneira de comunicar aos outros que necessitamos de ajuda. Assim como o riso é uma maneira de comunicar aos outros que estamos contentes. Não é a mesma coisa ver um filme cómico sozinho ou acompanhado. Quando estamos com amigos rimo-nos mais alto porque o riso é uma forma de comunicação. Quando a criança percebe que a mãe não está pára de chorar. Se a mãe não está, para quê chorar? Quando a mãe volta, então chora.
Além dos infantários, muitas crianças, mais velhas, já têm muitas obrigações, como piano, inglês, natação. Isso é bom?
Muitos pais são obrigados a ocupar as crianças depois da escola porque têm de trabalhar. Mas seria melhor se essas crianças estivessem a brincar no pátio, em vez de estarem a cumprir alguma atividade. As crianças precisam de jogo livre. Precisam de tempo em que ninguém controle o que estão a fazer. Antigamente, as crianças tinham muito jogo livre, brincavam na rua, saltavam, faziam o que queriam. Agora, cada vez mais lhes organizamos a vida. Já não há jogo livre. Mesmo quando as crianças têm três meses de férias, os pais não podem ficar com elas e põem-nas em campos de atividades, onde os monitores passam os dias a dizer-lhes o que fazer e como fazer. Em casa passam o tempo a obedecer aos pais. Se estão no computador obedecem a uma máquina. E a criança fica cada vez mais nervosa. Isto é uma das razões pelas quais está a aumentar o diagnóstico de défice de atenção e hiperatividade.
É possível que tantas crianças sejam hiperativas?
Alguns casos serão verdadeiros. Muitos casos serão provocados por este controlo. Se uma criança destas se porta mal na escola, o professor castiga-a proibindo-a de ir ao recreio. No entanto, o que esta criança precisa mais é de recreio. Há crianças que são capazes de aguentar duas horas sentadas na aula, mas há outras que não são capazes, fisicamente não podem. Por isso, mexem-se e falam. Estão a demonstrar que não conseguem estar sentadas tanto tempo. Precisam de mais recreios, de aulas mais curtas.
Muitos pais acabam por tratar essas crianças com medicamentos.
Haverá algumas crianças que precisam mesmo de tratamento, mas não serão todas quanto as que estão medicadas. Nos Estados Unidos, em algumas zonas, 10 por cento dos meninos tomam medicamentos para a hiperatividade. Não podem ser tantos! Isto é uma falha da nossa sociedade. Apesar disso, pais, médicos e professores ficam muito contentes porque, graças a esta droga, as crianças ficam mais atentas nas aulas. Mas se um atleta tomar medicamentos para correr mais depressa ninguém gosta. Um corredor profissional, adulto, está proibido de tomar pastilhas para correr mais. E uma criança de cinco anos pode tomar pastilhas para estudar mais. Como é que chegamos a isto? É uma loucura!
O que é que se pode fazer por essa criança?
O que essa criança precisa, provavelmente, é de um tipo de educação diferente. Os adultos também vivem de formas diferentes. Há adultos que trabalham num banco, todos os dias entram às oito e saem às três. Passam o dia sentados a fazer o seu trabalho e estão contentes. Outros preferem trabalhar numa expedição ao Pólo para tratar de focas. E as pessoas que trabalham com as focas dizem: «Se eu trabalhasse oito horas num banco morria». E toda a gente aceita isso.
Achamos que para os adultos é normal haver modos de vida diferentes, mas para as crianças tem de haver apenas um método de educação e todas têm de segui-lo. Mas não é assim. Há crianças que precisam de outro tipo de escola, como por exemplo a escola Waldorf ou a escola Montessori.
Por que é que os pais precisam tanto de livros que lhes digam o que fazer?
É um mistério. Eu acredito que não precisam. Só escrevi o “Bésame Mucho” porque já havia demasiados livros a dizerem o mesmo. Havia 20 livros diferentes a dizer aos pais: «não peguem no bebé», «não durmam com ele», «deixem-no chorar». Então, eu achei que faltava um que dissesse outra coisa, para que os pais pudessem decidir. Se todos os livros dissessem o mesmo, os pais teriam cada vez mais dúvidas sobre os seus instintos..
Todos dormimos algumas vezes na cama dos pais. É perfeitamente normal. Muitas vezes, esses momentos são das recordações mais bonitas que temos de infância. Alguns pais dormem com os filhos algumas vezes, outros dormem com os filhos todas as noites. O importante é que cada um decida por si. Dizem que os bebés têm de habituar-se a dormir sozinhos. Para quê? A maior parte das pessoas, durante a maior parte da vida, não dorme sozinha. Portanto, se for verdade que se possam habituar a alguma coisa, é melhor que se habituem a dormir acompanhados, pois é assim que vão dormir a maior parte da vida. (risos) Chega a uma idade em que eles não vão querer dormir com os pais, de certeza.
Há muitos bebés que choram assim que chega a hora de dormir ou choram muito quando estão cheios de sono. Porquê?
Os bebés sabem que quando dormem a sua mãe vai embora. Como não querem ficar sozinhos, fazem força para não dormir.
As creches são boas para as crianças?
Nem sempre são más, mas não são boas. As creches não foram inventadas porque os bebés ou as mães precisavam. São os empresários que precisam das creches porque querem que as mães deixem os bebés e vão trabalhar. Na União Soviética não havia creches porque as mães tinham três anos de licença de maternidade.
O ideal seria as mães ficarem em casa três anos?
O ideal seria que a criança ficasse com a sua família. Durante os primeiros meses teria de ser a mãe porque é a mãe que lhe dá mama. Depois, poderia ser a mãe ou o pai. A criança está sempre melhor com a sua família. Em Espanha, legalmente, pode haver oito crianças por educadora. Mas se uma mulher está grávida e na primeira ecografia lhe dizem que vai ter oito bebés, ela começa logo a pensar em quem poderá ajudá-la a cuidar das crianças. No entanto, deixam-se oito crianças com uma mulher, provavelmente mal paga, que nem sequer é sua mãe. Alguém acredita que ela vai cuidar tão bem delas como a mãe? Ou que as crianças se vão sentir melhor do que em casa? Ou que vão melhorar o seu desenvolvimento psicomotor porque aprendem mais na creche? Na creche não vão aprender nada. As educadoras mal têm tempo para mudar fraldas e dar biberões, quanto mais para ensinar-lhes alguma coisa. Uma creche com três crianças por educadora seria quase tão bom como estar em casa. Não seria melhor do que estar em casa.
E a partir dos três anos?
Para a maioria das crianças, os três anos são o limite para começarem a separar-se da sua mãe sem problema. Porque já são capazes de entender que ali estão bem e que a mãe vem buscá-los ao final da tarde. Uma criança de dois anos não entende isso. Não sabe onde está a mãe, não sabe que ela vai buscá-la às cinco.
Os bebés não percebem que a mãe vai voltar, mesmo quando volta todos os dias? Não acabam por se habituar?
Não podem saber. E não se habituam. Se um marido volta do trabalho todos os dias às cinco horas. E, de repente, todas as terças-feiras passa a chegar às sete sem dar uma razão à mulher. Ela fica descansada? Não. Cada vez fica mais nervosa. A repetição não tranquiliza a criança. Ainda a põe mais nervosa. E isso percebe-se nos primeiros dias dos jardim-de-infância. As crianças que estiveram em creches choram mais do que as crianças que estiveram em casa até aos três anos.
Também há bebés que só choram quando a mãe ou o pai os vai buscar à creche.
É lógico. Choramos quando há alguém que nos possa consolar. Há quem diga que as crianças choram para manipular os pais. Claro. Todos choramos para manipular alguém. É nisso que consiste. É uma maneira de comunicar aos outros que necessitamos de ajuda. Assim como o riso é uma maneira de comunicar aos outros que estamos contentes. Não é a mesma coisa ver um filme cómico sozinho ou acompanhado. Quando estamos com amigos rimo-nos mais alto porque o riso é uma forma de comunicação. Quando a criança percebe que a mãe não está pára de chorar. Se a mãe não está, para quê chorar? Quando a mãe volta, então chora.
Além dos infantários, muitas crianças, mais velhas, já têm muitas obrigações, como piano, inglês, natação. Isso é bom?
Muitos pais são obrigados a ocupar as crianças depois da escola porque têm de trabalhar. Mas seria melhor se essas crianças estivessem a brincar no pátio, em vez de estarem a cumprir alguma atividade. As crianças precisam de jogo livre. Precisam de tempo em que ninguém controle o que estão a fazer. Antigamente, as crianças tinham muito jogo livre, brincavam na rua, saltavam, faziam o que queriam. Agora, cada vez mais lhes organizamos a vida. Já não há jogo livre. Mesmo quando as crianças têm três meses de férias, os pais não podem ficar com elas e põem-nas em campos de atividades, onde os monitores passam os dias a dizer-lhes o que fazer e como fazer. Em casa passam o tempo a obedecer aos pais. Se estão no computador obedecem a uma máquina. E a criança fica cada vez mais nervosa. Isto é uma das razões pelas quais está a aumentar o diagnóstico de défice de atenção e hiperatividade.
É possível que tantas crianças sejam hiperativas?
Alguns casos serão verdadeiros. Muitos casos serão provocados por este controlo. Se uma criança destas se porta mal na escola, o professor castiga-a proibindo-a de ir ao recreio. No entanto, o que esta criança precisa mais é de recreio. Há crianças que são capazes de aguentar duas horas sentadas na aula, mas há outras que não são capazes, fisicamente não podem. Por isso, mexem-se e falam. Estão a demonstrar que não conseguem estar sentadas tanto tempo. Precisam de mais recreios, de aulas mais curtas.
Muitos pais acabam por tratar essas crianças com medicamentos.
Haverá algumas crianças que precisam mesmo de tratamento, mas não serão todas quanto as que estão medicadas. Nos Estados Unidos, em algumas zonas, 10 por cento dos meninos tomam medicamentos para a hiperatividade. Não podem ser tantos! Isto é uma falha da nossa sociedade. Apesar disso, pais, médicos e professores ficam muito contentes porque, graças a esta droga, as crianças ficam mais atentas nas aulas. Mas se um atleta tomar medicamentos para correr mais depressa ninguém gosta. Um corredor profissional, adulto, está proibido de tomar pastilhas para correr mais. E uma criança de cinco anos pode tomar pastilhas para estudar mais. Como é que chegamos a isto? É uma loucura!
O que é que se pode fazer por essa criança?
O que essa criança precisa, provavelmente, é de um tipo de educação diferente. Os adultos também vivem de formas diferentes. Há adultos que trabalham num banco, todos os dias entram às oito e saem às três. Passam o dia sentados a fazer o seu trabalho e estão contentes. Outros preferem trabalhar numa expedição ao Pólo para tratar de focas. E as pessoas que trabalham com as focas dizem: «Se eu trabalhasse oito horas num banco morria». E toda a gente aceita isso.
Achamos que para os adultos é normal haver modos de vida diferentes, mas para as crianças tem de haver apenas um método de educação e todas têm de segui-lo. Mas não é assim. Há crianças que precisam de outro tipo de escola, como por exemplo a escola Waldorf ou a escola Montessori.
Por que é que os pais precisam tanto de livros que lhes digam o que fazer?
É um mistério. Eu acredito que não precisam. Só escrevi o “Bésame Mucho” porque já havia demasiados livros a dizerem o mesmo. Havia 20 livros diferentes a dizer aos pais: «não peguem no bebé», «não durmam com ele», «deixem-no chorar». Então, eu achei que faltava um que dissesse outra coisa, para que os pais pudessem decidir. Se todos os livros dissessem o mesmo, os pais teriam cada vez mais dúvidas sobre os seus instintos..
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