Esse "sim" da Suíça tem consequências sobre toda a Europa. Em uma votação muito apertada, os suíços votaram, no domingo (9), a favor da iniciativa contra a imigração em massa proposta pela União Democrática do Centro (UDC). Com uma dupla maioria -de votos (50,4%) e de cantões-, os suíços se pronunciaram a favor da reintrodução de cotas de imigrantes para os cidadãos da União Europeia (UE). Isso levará a uma mudança na Constituição e a renegociações difíceis com a União Europeia.
Alain Salle
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O empresário suíço Christoph Blocher é a alma do partido populista UDC e está entre as principais vozes contra a União Europeia. O partido também tem sérias restrições à imigração
"É um enfraquecimento da posição da Suíça", explicou a socialista Simonetta Sommaruga, ministra da Justiça, que reconhece a derrota do Conselho Federal suíço. "É um voto contra as autoridades. É um voto contra o empresariado e contra os partidos", ela disse. "E estes devem se perguntar por que tantos de seus partidários não os seguiram em um voto tão essencial."
A votação constitui uma vitória incontestável para o partido populista UDC, que é o maior partido político suíço, com aproximadamente 25% das intenções de voto. Ele conseguiu reunir mais da metade dos suíços, nessa iniciativa em que estava sozinho contra todos –partidos de esquerda e do centro, mas também sindicatos e patronatos. Esse partido está na linha de frente do combate à imigração, mas também contra a União Europeia. Ele foi o responsável pelas votações contra os minaretes em 2009 e pela deportação de criminosos estrangeiros em 2010.
A alma do partido, o político e empresário Christoph Blocher, é a ponta de lança do combate à União Europeia. Ele comemorou esse sucesso em seu website, posando diante de um quadro hiperrealista que retratava duas vacas. Ele havia vencido sozinho em 1992 uma votação que rejeitava a adesão da Suíça ao espaço econômico europeu, negociada pelo governo federal da época. Foi depois dessa afronta europeia que a Confederação seguiu o caminho dos acordos bilaterais com Bruxelas.
A abertura das fronteiras suíças a todos seus vizinhos europeus levou a um grande aumento de trabalhadores estrangeiros, que representavam 23,3% da população ao final de 2012. Trata-se de uma imigração de mão de obra em geral qualificada, vinda da Alemanha, da Itália, de Portugal ou da França, sem contar o fluxo de trabalhadores transfronteiriços.
Os principais partidos não estavam muito preocupados, pois até então os suíços sempre haviam votado a favor da livre circulação. Foi o que aconteceu em 2005, na ocasião da ampliação da União para dez países da Europa Central, e em 2009 para a Bulgária e a Romênia. Os meios políticos e empresariais partiram confiantes demais nessa batalha, ainda mais pelo fato de que as pesquisas por muito tempo previram uma nítida vitória do 'não'. Foi só nas duas últimas semanas que a tendência se inverteu.
Essa Suíça hesitante não estará em posição de força para negociar com Bruxelas. O Conselho Federal suíço precisará explicar às capitais europeias o voto contra o qual ele brigou. Certos partidos sugeriram no domingo à noite que Christoph Blocher fosse enviado para negociar na Europa!
O Conselho Federal está decidido a andar rápido, mas ele tem três anos para alterar sua Constituição e renegociar os tratados internacionais. O texto votado no domingo não estabelece nenhuma regra sobre os contingentes de estrangeiros autorizados a trabalhar no país, nem os métodos para organizá-lo. Até 2002 o trabalho de estrangeiros era regulado por contingentes, o que deixou uma lembrança de obrigações administrativas desagradáveis para muitos donos de empresa. Vários deles falavam abertamente na possibilidade de transferir suas sedes para outro país em caso de vitória da iniciativa.
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