domingo, 17 de junho de 2012

AGROTURISMO 2-5


ORGANIZAÇÃO E ÊXITO.
Com a aberturada loja a Associação começa a ter cara e identidade. Nasce uma nova etapa, os sócios passaram a se encontrar para resolver suas necessidades. Achávamos que seria difícil encontrar novos sócios, o que não ocorreu, logo eles apareceram, ficando assim mais animado.
Uma descoberta: o vizinho fazia coisa importante.
Uma lição: não era preciso inventar grandes coisas, mas sim, aproveitar o que sabemos fazer.
Nas reuniões discutíamos propostas e fazíamos planejamento, sempre a partir das dificuldades e necessidades. Foram muitas horas de conversa.
Tivemos cursos dados pelo Sebrae, Prefeitura e Emater, com participação da Emcapa, Secretaria de Agricultura, UFES, faculdade de Turismo de Guarapari e Vila Velha. A articulação sempre feita por Luis Perin, Ronald Mansur, por mim e os demais sócios.
Foi importante a proposta do Alpes Hotel: levar os hóspedes nas propriedades do agroturismo. Era o que queríamos para divulgar e fazer o projeto aparecer.
Vou contar uma pequena história que aconteceu com seu Helmuth Kubbe, gerente do Alpes Hotel. Ele sempre saia com os hóspedes para os passeios. Certo dia acompanhava um grupo numa visita a Cachoeira do Barcelos. A estrada que leva a cachoeira atravessa trechos da Mata Atlântica e é cheia de encruzilhadas. No percurso ele se perdeu e não sabia para onde ir. Passou por várias entradas e nada. Mostrava a paisagem e nada de cachoeira. Resolveu parar o carro e disse para o grupo: tenho certeza que a cachoeira ficava bem ali, acho que ela mudou de lugar.
Foi importante a iniciativa da Prefeitura ao criar em 1996 a Secretaria de Turismo, sendo primeiro Secretário, Marco Antonio Grilo. A Câmara de Vereadores, a pedido do AGROTUR, criou o Selo de Inspeção Municipal (SIM) para atestar a qualidade dos produtos de origem animal e vegetal. Um destaque na Secretaria de Saúde foi Jésus Zandonadi, sempre junto aos agricultores para melhor orientá-los.
Até 1998 ficou marcado por realizações de suma importância. As metas foram alcançadas: a sinalização e o mapa colorido que indicava a localização das propriedades. Com um mapa de verdade ficou mais fácil. O que tínhamos era ruim, uma cópia xerox.
Com esta estrutura montada já estávamos bem acostumados a receber turistas e grupos de excursões. No início eram poucos e de forma irregular, mas com o tempo as propriedades envolvidas já recebiam um bom número de visitantes. A minha já recebia em torno de 500 pessoas por semana. Eram turistas do próprio Espírito Santo, de outros Estados e do exterior. Um dia recebi 120 pessoas ao mesmo tempo e uma dela me disse: já que não sei quem são os donos da propriedade no meio de tanta gente. Os turistas se sentiam à vontade e passavam a interagir nas atividades da propriedade. Ainda hoje tenho satisfação de falar a mesma coisa o dia inteiro e no outro dia também.
A imprensa e os governantes passaram a nos visitar e citar o agroturismo como exemplo de desenvolvimento. Ficamos mais conhecidos.
Ao falarem da atividade ocupávamos espaço e eles ficavam comprometidos. Isto despertou interesse na região. Vieram conhecer como funcionava o agroturismo. Traziam pessoas ligadas á agricultura, com potencial a ser desenvolvido e explorado. Vinham entender a nossa prática e o nosso dia a dia. Fui solicitado por municípios vizinhos para passar a experiência e apontar algum potencial. Em 1996 fiz uma palestra e contei as experiências no Distrito Federal. Parece que consegui dar o recado, os convites continuam chegando.
Hoje o agroturismo é uma marca do Espírito Santo, por ser o primeiro Estado a praticar esta modalidade no Brasil.
A FAMÍLIA
A família ocupa o lugar central no agroturismo. Ela desenvolve e faz gerar a atividade. Por sermos pioneiros passamos por muitas transformações. Quando começamos a receber turistas em casa nossa vida mudou.
Primeiro, a privacidade, a nossa casa não era mais só nossa, mas de todos que nos visitavam. Usavam nossos sanitários e bebiam água de nossa geladeira. Os finais de semana já não eram mais dedicados exclusivamente à família, uma vez que o atendimento aos turistas era feito pelos familiares.
O lado econômico também mudou porque entrava dinheiro quase toso os dias com a venda de queijos e derivados, fubá, pó de café, frutas que muitas vezes se estragavam no quintal.
Esta prática foi de grande valia para as mulheres, que até então se ocupava com os afazeres domésticos. Colocaram seus dotes em prática e passaram a produzir gostosuras e artesanato que aprenderam com os antepassados. O fruto do trabalho tinha agora novo sentido, trazia dinheiro. Agora elas compram o batom sem depender do dinheiro do marido.
Queríamos uma nova alternativa de renda e encontramos uma renda diária. Não conhecíamos esta realidade, éramos acostumados com o café que só trazia dinheiro uma vez por ano.
Iniciamos no agroturismo não porque gostávamos, mas por necessidade. Com a necessidade fomos gostando desta outra prática, e assim toda família foi engrenando. É claro que uns mais rápido que outros. Ao exercício de gostar é necessário dar muito tempo, pois o tempo no amadurece e nos faz aprender coisas novas, cada um com seu jeito de ser. Todos os membros de nossa família foram de adequando a nova realidade e encontrando o seu espaço.
Tivemos dificuldades no receber e falar aos turistas. No início só um tinha facilidade em fazê-lo. Mas com o passar do tempo todos já falam com naturalidade. Até meu filho Lorenzo, com 10 anos, fala da propriedade para grupos de visitantes de maneira agradável e prazeirosa.
Mas o que falar para as pessoas que nos visitam?
Devemos falar o que fazemos no dia a dia. Falar com naturalidade das atividades e da rotina. Isso não é difícil. Tudo o que fazemos na propriedade é atrativo turístico para quem nos visita. Não é necessário inventar termos difíceis e nem perder nosso palavreado do campo. Devemos manter o jeito simples de ser.
É preciso que o produtor rural busque tecnologia através de cursos e visitas, ver o que os outros estão fazendo de melhor, acompanhando o progresso sem perder o jeito rural de ser.
As pessoas que nos visitam querem saber o grau de tecnologia que usamos. Por isso é importante que cada um da família se especialize em uma atividade da propriedade. Assim o visitante pode conversar com várias pessoas, conhecendo mais e melhor. Certamente todos falarão a mesma língua: isso é fator determinante do sucesso.
Quando falamos de nossa atividade, falamos com entusiasmo. Falar como quem gosta do que faz. Devemos dizer que fazemos o melhor. Se fizermos cursos e investirmos em tecnologia, não precisamos ter receio de nada. Temos de ser agricultores de bem com a vida. Moramos no melhor lugar do Mundo, temos ar puro, água limpa que brota da fonte, natureza deslumbrante e ainda privilégio de sentir e conviver com o cheiro da terra.
Com essas transformações a família passou a ter uma visão empresarial e olhar para o que faz como um negócio. Como empresa e com visão empresarial a agricultura passa a ser produtiva, gera empregos, técnicas novas e trata a terra como um bem a ser preservado e respeitado.
É imprescindível que a família continue sendo agricultora, pois é essa a sua especialidade. Devemos manter esta linha como a principal atividade. Não devemos parar de produzir porque a atividade turística é mais rentável. Como agricultores devemos ter diversidades nas atividades, o que certamente vai gerar mais atrativos.
Outro fator importante é a família não perder suas raízes, tradições e costumes, passando-os de geração em geração. A história da família deve ser sempre contada e recontada, o que muito interessa aos turistas. Pode-se dizer da origem, de onde vieram os antepassados, porque migraram, que costumes trouxeram, as crenças e festas folclóricas.
Outro atrativo forte é a origem italiana da maioria das pessoas. Na colonização encontramos cultura, tradição, afazeres cotidianos, que nos torna um grupo homogêneo e diferenciado. Hoje todos querem manter as suas tradições. É importante fortalecer os grupos culturais para o desenvolvimento do agroturismo.
Outra mudança marcante foi com relação a visão comercial. Tínhamos pouca prática comercial. Normalmente o produtor só sabe produzir. Na hora de vender fica no prejuízo. Na indústria e comércio é que o lucro aparece. A atividade tornou-se viável, de forma rápida e satisfatória.
O agroturismo abriu as mentes e horizontes das famílias. Até as mais tradicionais se abriram a novos conceitos e atividades, passaram a aceitar idéias vindas de fora. Está mudança é importante, a família começa a ser uma marca. No futuro isso terá um valor enorme. Tiveram destaque nos meios de comunicação, sendo alvo de notícias da TV, rádio, revistas e jornais. Isto foi o que aconteceu na minha família. Inicialmente não queria os meios de comunicação propriedade  e de repente aceita, abre sua casa e fala de seus negócios.
ASSOCIATIVISMO
O associativismo foi fundamental no sucesso do agroturismo e para falar dele tenho que voltar na história. Em Venda Nova do Imigrante o mutirão é marca e tradição de sucesso. Estradas, escolas, igrejas, cemitério, sede da cooperativa e o hospital foram construídos em mutirão.
Uma das primeiras associações fundadas foi a das Voluntárias do Hospital Padre Máximo, que faz um trabalho fantástico. Reúne um grupo de 150 mulheres que doam seu tempo para produzirem artesanato e confeccionar a rouparia de uso do hospital. A produção é vendida em feiras nacionais, internacionais e no bazar montado na sede da associação. O lucro é revertido para a manutenção do Hospital. A diretoria é formada por membros da comunidade, com prestação de serviços gratuitos. As Voluntárias tiveram até bem pouco tempo a senhora Juta Batista como principal incentivadora, ilustre figura alemã, falecida em 2001. Incansável e batalhadora e amiga dos que se dedicam ao bem comum.
Outra associação importante foi o Conselho de Desenvolvimento, com atuação marcante nos anos 80. Este Conselho conseguiu o tratamento do esgoto, o primeiro no interior do Espírito Santo, isto quando Venda Nova do Imigrante ainda era Distrito. Depois o empenho no movimento de emancipação política que ocorreu em 1987. Citei dois exemplos, poderia citar outros. Quando a comunidade quer, ela atinge seus objetivos.
O agroturismo nasceu de experiências de trabalho. A maioria dos associados tem ligação com as Voluntárias. Nós encaramos a atividade como um negócio. Nossa associação veio para profissionalizar o trabalho comunitário e voluntário.
Quando começamos a produzir e vender, iniciamos uma nova fase, que foi até mesmo fazer leis para complementar a atividade. Uma lição fantástica foi a participação e o interesse de cada sócio em resolver os problemas que apareciam. Quando reunimos pessoas com o mesmo interesse temos boas chances de êxito.
No agroturismo a união é a força.
Fizemos uma descoberta: se eu não falar daquilo que os outros fazem, eles não irão falar daquilo que eu faço. Um atrativo só, por melhor que seja, não é suficiente para trazer turistas. Temos produtores que fazem diferentes produtos e isso faz com que tenhamos opções. É bom que cada um faça um produto diferente e evite fazer uma mera cópia.
Começamos a fazer um queijo que virou a nossa marca. Se o meu vizinho faz um queijo diferente, certamente vou encaminhar o turista até ele e vice-versa. Entendemos a importância da parceria. Quando os atrativos e atividades são repetidos, causam disputas e desavenças, ninguém ganha, todos perdem.
O associativismo é um instrumento que gera crescimento pessoal e comunitário, ao reunir pessoas para planejar, fazer cursos e participar de feiras. Com isto todos ganham. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário