– 23 DE JULHO DE 2013
Em bairro central, reação criativa dos moradores leva governo a suspender corte de plantas. Agora é preciso oficializar medida e espalhar resistência
Por Rachel Schein, no Vá de Bike
Cerca de 100 pessoas se reuniram para protestar contra a retirada de 30 tipuanas do canteiro central da avenida Francisco Matarazzo, em São Paulo, na tarde do domingo 21/07. As árvores seriam retiradas pela construtora WTorre, para ampliar em uma faixa de rolamento a pista sentido centro da Avenida Francisco Matarazzo, como uma das contrapartidas viárias exigidas para a obra do novo estádio do Palmeiras.
A manifestação foi organizada pelo Facebook por Paulo Preto e Flávia Lemos, do coletivo “Ocupe e Abrace”. O protesto foi “abraçado” por moradores do bairro e representantes de coletivos como Hortelões Urbanos, Pedal Verde, A Pompéia que se quer, Centro Cultural da Pompéia, Moradores da Vila Pompéia contra a verticalização, Árvores Vivas, Conseg Perdizes/Pacaembu e outros.
Cartazes coloridos com diversas frases foram amarrados nas árvores para chamar atenção de quem passa por lá:
Suspensão do corte é temporária
A prefeitura decidiu suspender temporariamente o corte das árvores, conforme informação publicada no Diário Oficial no sábado. A suspensão vale por 30 dias, período em que será realizado um estudo para buscar uma solução melhor.
Para Cyra Malta, funcionária da Subprefeitura da Lapa e participante do Pedal Verde, existem muitas opções de transporte coletivo para se chegar até lá e não seria necessária essa mudança. “Hoje temos a estação Água Branca de trem, a estação Barra Funda, o corredor de ônibus na Francisco Matarazzo e nós temos duas outras estações previstas – uma estação de metrô próxima ao Sesc Pompeia e uma outra perto da Praça Marrey Junior – e temos prevista a implantação do corredor de ônibus na Avenida Sumaré”, relata. “Quer dizer, tem um conjunto de intervenções urbanas que favorecem a chegada àquele ponto de evento a partir do transporte público e não do transporte individual automotivo”. Ainda segundo Cyra, as calçadas são estreitas para aquelas pessoas que fazem uso do transporte ativo, que é a caminhada.
Flávia, uma das organizadoras, concorda: “a gente espera que a WTorre, junto com o poder público, encontre uma solução que preze o transporte público da região, porque o trânsito já é caótico de qualquer jeito e não é isso que vai refrescar”.
Juliana: plano deveria ser o de plantar mais árvores, não retirar as existentes. Foto: Rachel Schein
Segundo Juliana Gatti Pereira, do “Árvores Vivas”, o plano deveria ser o de criar espaço pra mais árvores. O ideal seria “que eles tirassem da obra para colocar na via, não tirar o que a gente tem de benefício já implantado, fixo e consolidado em termos ambientais”. E conclui: “pensar em remover árvores desse porte, com essa importância para o equilíbrio ambiental da nossa cidade é um crime gigantesco”.
Luiz: retirada está na contramão de como as pessoas estão pensando a cidade. Foto: Rachel Schein
Luiz de Campos Jr., do projeto “Rios e Ruas”, aponta que o que está acontecendo na Av. Francisco Matarazzo é um retrocesso. “É um exemplo da contramão da urbanização da cidade. Enquanto todo mundo está falando que precisamos aumentar os espaços de drenagem na cidade, aumentar o verde, a taxa de arborização, etc., a gente vê uma empresa que para resolver o problema de fluxo de veículos pretende retirar uma ilha central onde existem várias tipuanas”.
Luiz explica que, apesar de não serem árvores nativas de São Paulo, as tipuanas da avenida são muito antigas e saudáveis. “E mais do que isso: não é uma substituição, aquele lugar vai ficar sem nenhuma árvore. Então vem exatamente na contramão do que as pessoas estão pedindo, de como as pessoas estão pensando a cidade”.
Além de todos os problemas citados, há também a preocupação com a segurança de quem vive no bairro. “A gente [do coletivo Ocupe e Abrace] acredita que a segurança está na revitalização do espaço público, não nos grandes muros das incorporadoras”, afirma Flávia Lemos.
A WTorre informou em nota que tem participado de reuniões com a Subprefeitura da Lapa, Secretaria do Verde e Meio Ambiente (SVMA) e a CET, “para decidirem, em conjunto, a melhor maneira de executar as obras de contrapartidano entorno do Allianz Parque e minimizar os impactos ambientais e de mobilidade na Av. Francisco Matarazzo e na vizinhança da arena”. Reforça que a decisão final compete aos órgãos públicos e a empresa “cumprirá com as determinações que lhe forem exigidas”.
Placa alerta sobre a frequência de enchentes na região. Impermeabilizações, como a que seria causada pela retirada das árvores, só pioram a situação. Foto: Rachel Schein
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NOTA DE OUTRAS PALAVRAS:
A suspensão temporária do corte das árvores não é suficiente, acreditam os moradores. Há aí um debate sobre as prioridades da cidade. Ao anunciar que vai favorecer o transporte coletivo, prefeitura deve ser coerente e barrar os interesses empresariais de sentido oposto. Além disso, o aspecto ambiental, em cidade de complexos problemas de planejamento hídrico, também deve ser colocado acima do cimento.
O grupo que lançou a mobilização continua agindo por meio de um abaixo-assinado, procurando aumentar o alcance da luta. Estão também mobilizando a população do entorno para participar ativamente de reunião com o CADES – Conselho Regional do Meio Ambiente -, que acontece essa quinta, dia 25, às 19h, na Subprefeitura Lapa. Além de oficializar a manutenção das árvores, ideia é difundir a possibilidade de resistência.
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