quarta-feira, 18 de novembro de 2015

MDS defende que o orçamento do Bolsa Família seja mantido

Na proposta orçamentária para 2016, estão previstos R$ 28,7 bilhões para o Programa, recursos necessários para manter os bons resultados na redução da extrema pobreza
Em 12 anos de existência, o Programa Bolsa Família (PBF) retirou da miséria mais de 36 milhões de pessoas, contribuindo para a queda da desigualdade social. Segundo dados divulgados pelo IBGE na semana passada, apenas 2,8% da população no país vivia em condição de extrema pobreza em 2014, quase três vezes menos do que o percentual registrado em 2004. Contudo, o Programa passou a ser mencionado na mídia como possível objeto de corte orçamentário para 2016. Para não criar dúvidas na população, é preciso esclarecer que a proposta de reduzir em R$ 10 bilhões o orçamento para o PBF no ano que vem nem sequer foi formalizada e, mesmo que seja, ainda precisará ser votada pelos deputados federais e pelos senadores.
A Proposta de Lei Orçamentária — encaminhada pelo Executivo, em agosto, para o Congresso Nacional — prevê o orçamento de R$ 28,7 bilhões para o Bolsa Família. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) foi quem solicitou esse valor e defende sua manutenção, para que o Programa continue atendendo às famílias que vivem em situação de pobreza e extrema pobreza.
Para entender o que significaria um eventual corte no PBF, a Secretaria Nacional de Renda de Cidadania (Senarc/MDS) fez estudos de impacto, utilizando o seguinte critério: desligamento das famílias com renda por pessoa menos baixa (antes do PBF) em primeiro lugar, descendo para faixas de renda mais baixa, até chegar ao limite dos R$ 10 bilhões. A referência utilizada foi a Folha de Setembro do Bolsa Família.
Os efeitos são preocupantes:
    Sairiam do Programa Bolsa Família 6,7 milhões de famílias — quase metade das famílias beneficiárias. Isso representa 23 milhões de pessoas. 
    Voltariam à extrema pobreza (renda mensal por pessoa de até R$ 77) 2,5 milhões de famílias, o que representa 8 milhões de pessoas. 
    Em termos absolutos, São Paulo seria o estado que perderia o maior número de famílias beneficiárias, seguido de Bahia e de Minas Gerais.
    A Bahia seria o estado com o maior número de famílias retornando à condição de extrema pobreza, seguida de Pernambuco e de São Paulo.
 UF
Famílias que sairiam do Bolsa Família
Famílias que entrariam na pobreza extrema
 AC
29.331
        9.403
 AL
185.892
      87.006
 AM
146.445
      52.968
 AP
28.543
      11.462
 BA
706.061
    345.434
 CE
469.849
    198.850
 DF
63.146
      16.973
 ES
128.004
      34.579
 GO
221.900
      65.123
 MA
296.867
    155.593
 MG
695.053
    207.629
 MS
86.047
      20.071
 MT
117.273
      30.302
 PA
343.288
    157.719
 PB
173.960
      88.641
 PE
491.172
    247.419
 PI
123.281
      53.177
 PR
293.827
      65.636
 RJ
423.879
    152.304
 RN
169.441
      70.600
 RO
69.912
      21.469
 RR
21.877
        7.386
 RS
260.197
      75.152
 SC
94.795
      19.549
 SE
129.707
      67.532
 SP
838.865
    235.141
 TO
72.560
      21.182
 Brasil
6.681.172
 2.518.300
                Fonte: Senarc/MDS
Também haveria impactos negativos na educação, com a saída do Programa de mais de 2,5 milhões de crianças em idade escolar (6 a 17 anos). Fora do PBF, as famílias deixam de ter o compromisso de garantir que os estudantes até 15 anos frequentem 85% das aulas e que os jovens de 16 e 17 anos estejam presentes em 75% das aulas. Além disso, o poder público não mais acompanharia esses alunos para identificar possíveis dificuldades no acesso ao direito de estudar. Utilizando como referência a taxa de frequência de estudantes não beneficiários com perfil similar de renda, a Senarc estima que 300 mil crianças e adolescentes deixariam de frequentar a escola.  
Na saúde, mais de 1,2 milhão de crianças menores de 7 anos deixariam de ser acompanhadas, sem monitoramento sobre a vacinação nem sobre o crescimento e o desenvolvimento nutricional. Estudos da Universidade Federal da Bahia já mostraram que, em municípios com cobertura alta do Bolsa Família e do Saúde na Família, a mortalidade infantil é quase 20% menor do que em municípios com baixa cobertura dessas políticas. A queda nas mortes por desnutrição é ainda maior: 58%. Sem Bolsa Família, as crianças ficam imediatamente mais vulneráveis. 
Rotinas de controle
Há muito preconceito e desconhecimento sobre o funcionamento do Programa, levando a argumentos pró-corte. O principal deles é de que parte dos beneficiários do Programa teria renda acima do limite do PBF. As informações cadastrais são declaratórias, mas o poder público tem responsabilidade pela qualidade dos dados registrados no Cadastro Único e mantém procedimentos permanentes de verificação.
Pelo Termo de Adesão ao PBF, assinado por todos os municípios e os estados, as gestões municipais também se comprometeram a adotar medidas para prevenir fraudes e garantir que os cadastros reflitam a real situação das famílias. Em nível federal, por sua vez, a Senarc possui uma área de fiscalização de recebimento indevido de benefícios e coordena periodicamente grandes ações de controle, por meio da Revisão e da Averiguação Cadastral. Só no ano passado, esses dois processos resultaram em mais de 1,2 milhão de cancelamentos. As rotinas de 2015 estão em andamento, mas já houve milhares de cancelamentos. 
As ações de Averiguação e Revisão abrem espaço para que outras famílias cadastradas que estão dentro do perfil de renda tenham acesso ao benefício. O Bolsa Família mantém, assim, o foco na população mais pobre.
Proteção social
Vale esclarecer também que existe uma parcela pequena dos beneficiários que possui renda superior a R$ 154 mensais por pessoa, sem que isso signifique qualquer irregularidade. Esses beneficiários se enquadram na regra de permanência, prevista no Decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004 (Art. 21, parágrafo 1º — introduzido em 2009). A regra de permanência admite que a família mantenha temporariamente os benefícios, caso sua renda aumente para até meio salário mínimo por pessoa. Isso se justifica porque, entre a população em situação de pobreza, a renda é muito volátil  característica dos laços frágeis de trabalho, do desemprego mais prolongado, de pequenos negócios que se desfazem em pouco tempo. É, portanto, uma proteção a essas famílias. Atualmente, mais da metade das famílias incluídas na regra de permanência estão nessa condição há menos de seis meses.
O Bolsa Família foi criado com o objetivo de aliviar a pobreza de uma população historicamente invisível para as políticas públicas, incentivando seu acesso a direitos sociais básicos, como saúde, educação e assistência social. A manutenção do orçamento do Programa é essencial para evitar que as famílias mais pobres sejam ainda mais penalizadas em um momento de crise.

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