Não é preciso procurar. Encontramos pelas
ruas, avenidas e esquinas da cidade, pessoas que perambulam de um lado para outro.
Quando a noite vai chegando elas vão se agrupando e logo pela manhã vão
novamente caminhar pelas ruas, avenidas e esquinas.
Uns chamam de população de rua, moradores
de rua, outros falam que são produtos do sistema, mas tem gente que fala que
são marginais e outros adjetivos, sempre pejorativos. Mas o concreto disto tudo
é que existem e estão diante dos nossos olhos, todos os dias, todos os meses e
por anos a fio. Realidade social.
Se observamos por um período maior, por
meses, veremos que o contingente vai se renovando, mas vai sendo ampliado, esta
é a minha sensação.
Mas quando vejo a população de rua, me
vem sempre na cabeça um poema de Newton Braga, PONTAS DE CIGARRO.
Enrosca-te mais, farrapo humano,
(Vê como os santos são tão úteis:
- na porta da igreja há um canto em que
não chove.)
O frio entra pelos teus ossos,
põe dormência nos teus músculos
mas é maior no estômago vazio.
Enrosca-te mais, trapo de gente.
(Para que homens terão pernas?
Nunca se sabe onde ajeitá-las,
numa noite assim, de chuva e frio).
Vê se sonhas com outro mundo
ou ao menos com um prato de comida
ou um
copo de cachaça.
Não penses, que dá mais fome, dá mais
frio, dá mais ódio,
(Não te assustes. Os pingos que te
molharam não são da chuva:
Foi a limusine que passou na poça d’água)
Não estabeleças paralelos idiotas.
Ora, naturalmente que seria bem melhor
andar assim,
com um sobretudo daqueles, num automóvel
daqueles,
com uma mulher daquelas, um daqueles
charutos na boca.
Mas não é hora de pensar em coisas desse
jeito,
Enrosca-te bem, farrapo humano,
miserável trapo de gente – e dorme,
Dorme, bagaço podre da sociedade.
(Será que jamais alguém pensou
que dessas pontas de cigarro
atiradas a esmo pelas ruas,
pode nascer um incêndio que mude a face
do mundo?)
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