Contar histórias escondidas em meio à guerra. Esse foi um dos motivos que levou o fotógrafo Gabriel Chaim a deixar o Brasil rumo à Síria, país que carrega, há quatro anos, marcas do conflito que já deixou mais de 200 mil mortos.
Crédito:Reprodução/Facebook
Gabriel Chaim pretende voltar à Síria mesmo após deportação
Chaim foi detido no último dia 5 de maio na cidade de Sanliurfa, quando tentava cruzar ilegalmente a fronteira entre a Síria e a Turquia. Três dias depois foi levado para um prédio de um órgão ligado ao ministério do interior turco. Lá, dividiu a cela com cerca de 20 membros do grupo radical Estado Islâmico (EI). “No primeiro momento, senti medo. Não sabia o que iria acontecer. Mas quando comecei a conversar com as pessoas que estavam lá, queria saber a história delas”, relata.
Um sinal de ameaça dos jihadistas foi minimizado pelos iranianos, que comandavam a prisão. O fato de ser brasileiro também ajudou o profissional. “Quando cheguei e eles souberam que eu era do Brasil e já havia ido ao Irã, logo simpatizaram comigo e me deram proteção. Acho que isso salvou minha vida”.
Por meio de uma interpretação radical do islamismo sunita, o EI tem buscado domínio sobre o Oriente Médio. O grupo fez diversos profissionais de imprensa como reféns e decapitou parte deles. Desde o ano passado, vídeos publicados por seus membros mostram a execução dos jornalistas.
Crédito:Gabriel Chaim
Gabriel diz que a ação do EI inibe a imprensa estrangeira para cobrir os fatos que acontecem em diversas regiões em conflito. “Eu me orgulho muito de ter colegas que se arriscam para noticiar fatos nessas áreas”, reforça.
De frente para a morte
Para o fotógrafo, o principal desafio é lidar 24 horas com a morte. “A cada minuto você luta para se manter vivo”, diz. Entre coberturas no Irã, Iraque, Faixa de Gaza e Egito, ele cita a Síria como a mais difícil.
Em dezembro de 2013, Gabriel esteve em Aleppo, outro município sírio afetado pela guerra. A cidade, especialmente na metade leste, que é controlada pelos rebeldes, enfrenta bombardeios diários pelo regime. “Para se defender é quase impossível. Você tem que saber muito bem os passos que vai dar, a hora que vai sair e destino”.
Crédito:Gabriel Chaim
No Egito, o fotógrafo acompanhou todas as etapas que levaram à queda do presidente Mohammed Morsi, em julho de 2013. Segundo ele, com a repressão policial nas ruas, havia o risco de ser preso a qualquer momento. “Vários colegas da imprensa estrangeira e local foram presos. Alguns ainda continuam”, lembra.
Histórias
Uma das histórias que marcaram o fotógrafo ocorreu durante cobertura na Síria em 2013, quando um bebê de seis meses foi encontrado dois dias depois após um prédio, atingido por um míssil, desabar. Todos os 50 moradores que estavam no local haviam morrido.
Cheia de feridas, hematomas e com manchas azuladas na pele decorrentes de fragmentos de bomba, a pequena Mais, como foi batizada, ficou 15 dias na UTI. Ao deixar o hospital, os moradores procuraram uma família que aceitasse cuidar dela. O sírio Omar e sua esposa, Mariam, que não podiam ter filhos, adotaram a menina.
Crédito:Gabriel Chaim
Os registros de Chaim também mudaram a vida de Andri, uma refugiada Síria atingida por ácido no rosto. Ela morava na região de Al-Hasaka, no norte do país, e veio para o Brasil em busca de tratamento. Após uma exposição do fotógrafo ser noticiada em reportagem especial no jornal britânicoThe Guardian, uma organização de cirurgia plástica americana se sensibilizou com a história e ofereceu ajuda médica. "É um resultado positivo em meio a tanta tristeza", diz.
Gabriel Chaim ainda quer retornar à Síria. Os próximos planos também incluem o Iraque. "Tem muita caminhada ainda na minha trajetória. Enquanto essas guerras não acabarem eu tenho muito trabalho pela frente", completa.
* Com supervisão de Vanessa Gonçalves.
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