26 de maio de 2015 | 19:30 Autor: Fernando Brito
Mestre Mauro Santayanna publicou ontem um intenso e pungente lamento sobre o destino dos países árabes “democratizados” pelo Ocidente, a poder de bombas, foguetes e mísseis, diretamente, e do fornecimento às toneladas de armamentos para os “rebeldes” que iriam fazer florir democracias sobre seus desertos e vales.
Os mesmos que formam agora o autoproclamado Estado Islâmico.
E espalham a hegemonia da ditadura da Arábia Saudita sobre o Oriente Médio e o Norte da África. Há ainda o Egito, que, segundo o insuspeito colunista Gustavo Chacra, do Estadão, tem agora “uma ditadura que, em pouco mais de um mês, mata como o regime militar brasileiro em 20 anos.
Há um massacre que se dá sob as bençãos do Ocidente, que foi tão impiedoso com os velhos tiranos, mas trata com incrível onação – não vão além de iniciativas hipócritas
E pouquíssimos, como Santayanna, capazes de dizer que ele existe e se agrava, destruindo não apenas relíquias arquelógicas, como gosta a mídia de mostrar e é criminoso – mas as vidas de milhões de seresm humanos como eu e você.
Às portas de Bagdad
Mauro Santayanna
Prometeram-lhes a Primavera. Mas nenhuma flor brotou de seus cadáveres, a não ser as formadas pelas algas e organismos marinhos que cobrem os seus corpos no fundo do Mediterrâneo.
Disseram-lhes que haveria paz, justiça, progresso, conforto e liberdade. E em troca lhes deram o caos de que procuram fugir a qualquer preço, a guerra, a injustiça, a destruição, o medo, a opressão e a miséria, e atacaram, com seus aviões e navios e as bombas e balas de seus mercenários, seus países, suas lojas, suas escolas, seus consultórios, seus poços e suas fontes, seus campos de trigo, seus bosques de oliveiras, matando seus cavalos, suas vacas, suas ovelhas, e explodindo suas pontes e seus templos.
Suas casas e ruas agora estão em ruínas. Seus móveis e os retratos de seus pais foram queimados para fazer fogo e assar o pão escasso enviado por outros povos, muitos de seus filhos e filhas morreram e os que sobraram não vão mais aos parques, nem ao zoológico, nem à escola, e caçam ratos entre os escombros em que se misturam os restos de mesquitas, igrejas e sinagogas.
Aqueles que prometeram a Primavera transformaram professores, agricultores, trabalhadores, médicos, engenheiros, comerciantes, em fantasmas que vagueiam agora aos milhares, enterrando seus velhos e seus recém-nascidos por trilhas, montanhas, mares e desertos hostis e inóspitos, sem poder prosseguir diante de fronteiras e portos que não permitem a sua entrada, obrigando-os a fazer dos restos de suas túnicas e bandeiras farrapos imundos que cobrem seus frágeis abrigos e tendas provisórias.
Aqueles que haviam lhes prometido a Primavera tinham dito que era preciso que seus ditadores caíssem, para que fossem felizes. E para derrubar os antigos líderes de seus países, dividiram seus povos e as armas que trouxeram de fora, equipando exércitos de assassinos, de sádicos, estupradores e mercenários, permitindo que seus bandidos fossem e matassem.
Foi assim que eles derrubaram, então, aqueles que governavam antes. Os enforcaram ou espancaram na rua, como cães, até a morte, destruíram as estradas, ferrovias, aeroportos, avenidas, represas, aquedutos, viadutos, hospitais, as estátuas e os palácios que Saddam, Kadafi, haviam construído, e mataram também seus filhos, para que não os vingassem, e aqueles que um dia os tinham apoiado, e espancaram e assassinaram também seus filhos pequenos e violentaram suas filhas e mulheres.
“Vão”, disseram os que haviam prometido que semeariam a Primavera. E seus assassinos foram. Os mesmos que agora voltaram-se contra eles, que degolam seus prisioneiros ajoelhados na areia, e se espalharam em bandos e seitas pelo Oriente Médio e o Norte da África.
Eles querem montar um Estado – Islâmico, eles o chamam – onde antes existiam, de fato, a Líbia, a Síria e o Iraque. Estão às portas de Bagdá. Tomaram Ramadi e Palmira. E cobiçam Trípoli e Damasco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário