quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Torcidas Organizadas se mobilizam contra futebol na TV às 22 horas


Da Redação
Penélope Toledo ( (alto): horário não contempla a quem faz parte do espetáculo: o torcedor
Penélope Toledo ( (alto): horário não contempla a quem faz parte do espetáculo: o torcedor
O problema não é exatamente se seu time venceu ou perdeu. Se o juiz marcou ou não o pênalti que garantiu a vitória ou impôs a derrota. O drama maior que aflige todas as torcidas, sem distinção de cor ou canto, começa alguns minutos após o encerramento da partida quando o juiz apita e aponta para o centro do gramado: como é que o torcedor fará para chegar em casa com um mínimo de segurança às altas horas da madrugada, quando é permanente o conflito entre torcedores e o perigo de assaltos? E mesmo para aquele tiozão da poltrona, a queixa não é menor: baixar a adrenalina depois da meia-noite para pegar no batente pela manhã não é tarefa fácil. 

Contra todos os prognósticos dos mais envolvidos na arte da bola, a reação mais forte aos jogos que começam às 22 horas (e termina amanhã), exibidos com exclusividade pela Globo (ou pela sua apoiadora Band) na TV aberta, a queixa surge dos torcedores organizados. E fazem coro com os atletas do "Bom Senso Futebol Clube" que, embora tenham brigado contra as diretrizes do oligopólio, na prática, não conseguiram alterar o horário das partidas no meio da semana. Como diz o ex-jogador Alex, hoje representante da entidade, a bola no Brasil só rola depois do beijo na novela da Globo.

Integrante do coletivo de Futebol, Mídia e Democracia do Barão de Itararé, entidade que defende a democratização da mídia no país e a pluralidade da Comunicação, Penélope Toledo participa de encontros com torcedores das principais torcidas do país. A partir das reuniões foi montado um grupo que pretende mudar uma realidade que só atende aos interesses comerciais da emissora da chamada mídia hegemônica: 

- Não é justo que a torcida, que é parte do espetáculo futebolístico, seja prejudicada porque emissoras de televisão impõem que os jogos sejam às 22h. Não é certo que o futebol, uma expressão cultural do povo brasileiro, esteja refém dos conglomerados midiáticos.

Leia na íntegra o artigo de Penélope Toledo escrito com exclusividade para Conexão Jornalismo:


Unanimidade entre as organizadas: horário é ingrato a todos os envolvidos, à exceção da Globo
Unanimidade entre as organizadas: horário é ingrato a todos os envolvidos, à exceção da Globo  



















Campanha "Jogo 10 da noite, NÃO" e as torcidas organizadas

Por Penélope Toledo

O juiz apita o final do jogo e a batalha dentro de campo se encerra. Aí começa uma outra batalha, fora de campo, a do/a torcedor/a: conseguir chegar em casa. Isto porque as partidas que começam às dez, na melhor das hipóteses, terminam à meia-noite, quando grande parte do transporte público já parou de funcionar. Isto fora o perigo de andar em ruas pouco iluminadas e sem policiamento, isto fora o cansaço no dia seguinte, quando terá que acordar cedo para trabalhar, estudar etc.

Não é justo que a torcida, que é parte do espetáculo futebolístico, seja prejudicada porque emissoras de televisão impõem que os jogos sejam às 22h. Não é certo que o futebol, uma expressão cultural do povo brasileiro, esteja refém dos conglomerados midiáticos. Diante destas constatações, o coletivo de Futebol, Mídia e Democracia, do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, desenvolve a campanha "Jogo 10 da noite, NÃO". Trata-se de uma campanha em que torcedores/as manifestam durante as partidas, individual ou coletivamente, a sua insatisfação com o horário tardio e viralizam as imagens e vídeos desta manifestação. 

Aliadas fortíssimas nesta campanha têm sido as torcidas organizadas (TOs), devido ao canal de diálogo que têm com um número grande de torcedores/as e ao seu inquestionável poder de mobilização. Além disso, as organizadas - ainda que não se deem conta - são, dentro do futebol, a sociedade civil organizada, isto é, são um movimento social. E como tal, têm força política para reivindicar e conquistar direitos dentro do esporte, junto ao clube e às federações (horários dos jogos, preço dos ingressos, respeito etc), e para além dele, se posicionando com relação aos assuntos da sociedade e denunciando os verdadeiros inimigos do futebol e do povo.

Este papel político, inclusive, vai na contramão da campanha midiática que criminaliza as TOs, assim como criminaliza os demais movimentos sociais, taxando a todos como desordeiros, bandidos, vagabundos. Curiosamente, uma pesquisa sobre o perfil do/a torcedor/a organizado/a no RJ e em SP, financiada ou apoiada por instituições como CNPq, FGV, Fapesp e Centro de Referência do Futebol Brasileiro, do Museu do Futebol, aponta que 81% dos torcedores organizados de SP e 70% no RJ trabalham, sendo que no segundo a porcentagem é menor à grande quantidade de estudantes . Além disso, o/a integrante das TOs apresenta padrão de escolarização superior à média nacional.

A imagem negativa das TOs, entretanto, tende a ser parcialmente descontruída na medida em que elas se compreendam enquanto movimento social e se engajem conscientemente nas lutas da sociedade e em campanhas como "Jogo 10 da noite, NÃO". Pois assim, o torcedor comum perceberá que são as torcidas organizadas que estão lá levantando bandeiras e reivindicando os direitos que também são seu. Mas, naturalmente, também é importante que as TOs tomem medidas internas que minimizem as situações de violências e excessos a partir das quais a mídia hegemônica edifica a sua criminalização.

Perfil sócio econômico dos torcedores organizados é mais elevado do que a média nacional:


A categoria dos/as torcedores/as organizados/as que exercem atividade profissional apresenta a maior diferença entre as duas pesquisas, pois em São Paulo a proporção foi de 7% de estudantes e no Rio somou 26%. Esse resultado se deve, possivelmente, à maior proporção de entrevistados com até 19 anos, haja vista que os clubes da capital fluminense têm 32% do contingente de entrevistados nesta faixa. Na capital paulista, a categoria soma apenas 15%. (Fonte:http://gvcult.blogosfera.uol.com.br/2016/01/28/torcidas-organizadas-no-brasil-contemporaneo-ii-resultados-de-um-survey/).


Segundo dados do censo demográfico brasileiro, realizado pelo IBGE em 2010, 49,3% das pessoas com mais de 25 anos de idade são analfabetas ou têm o ensino fundamental incompleto. 14,7% possuem o ensino fundamental completo, 22,5% o ensino médio completo e 11,3% têm o ensino superior completo. Já os clubes pesquisados do Rio e de São Paulo possuem, respectivamente, 19% e 20% de torcedores com ensino superior e 58% e 62% com ensino médio completo. Assim, os torcedores organizados apresentam proporções quase duas vezes maiores para o grau de escolaridade dos ensinos superior e médio, do que a população brasileira com mais de 25 anos, de acordo com a mensuração do IBGE no censo demográfico de 2010 (Fonte:http://gvcult.blogosfera.uol.com.br/2016/01/28/torcidas-organizadas-no-brasil-contemporaneo-ii-resultados-de-um-survey/).


Politizada e crítica social

Uma das principais observações dos envolvidos nas pesquisas com os mais diversos torcedores é que eles, ao contrário do que muitos acham, são na sua maioria politizados, críticos da conjuntura política nacional e tem noção da imagem que a sociedade faz das entidades fomentadas especialmente pela mídia corporativa. Parte desta construção se deu em função de autoridades que usaram as brigas de torcidas para ganhar notoriedade e ascender no mundo político.

Penélope Toledo
Penélope Toledo  




Neste vídeo, a torcida Fiel Corintiana faz uma manifestação na qual protesta contra a corrupção na compra das merendas escolares no governo de Geraldo Alckmin. Este vídeo não foi exibido pela mídia corporativa:




O texto que se segue é da TVT

Torcida organizada protesta contra o governo de Geraldo Alckmin. Veja a nota oficial abaixo: 

Hoje, os Gaviões da Fiel abordará o tema mais recente, de uma forma diferente. Ao invés da formalidade de uma nota, como costumeiramente fazemos, daremos espaço para um papo reto, sincero, de torcedores para torcedores.

E o mais importante: o papo aqui é de qualquer torcedor para qualquer torcedor, seja ele organizado ou não, seja ele Corinthiano ou não.

Não nos surpreendeu em nada a punição que a Federação Paulista de Futebol destinou a nós, Gaviões da Fiel Torcida, por acendermos sinalizadores na final da Copinha, disputada na segunda-feira passada, dia 25.

A punição era esperada e, justamente por isso, nos adiantamos com os cânticos mais sinceros que poderíamos destinar aos supostos mandatários do esporte bretão: Federação, o futebol não precisa de você!

Verdade esta, cada vez mais absoluta.

Achamos que a molecada da base, ao ter a oportunidade e privilégio de jogar em um Pacaembu lotado, merecia a festa que sempre fizemos com muito gosto e orgulho, para todos que vestiram a camisa do Corinthians.

E o fizemos sem melindres.

Agora que a punição foi formalizada e nós, Gaviões da Fiel Torcida, não poderemos estar nos estádios por 60 dias, deixamos algo bem claro: nossa diretoria não se responsabilizará, durante o prazo da punição, por qualquer ato de qualquer torcedor que esteja nos estádios.

60 dias que vocês, que se empenham dia após dia por um futebol do bom comportamento, da boa conduta, da moral e da ética, terão que caçar outro bode expiatório.

Pois é fácil vender a ideia de que somos um mal ao futebol. Nossos sinalizadores, aqueles que furam camisetas, podem ser para muitos o que há de mais nocivo ao esporte.

Mas contestamos a tese destes.

O que há de pior para o futebol, são os escândalos de corrupção, o valor abusivo dos ingressos, os esquemas de empresários, a mercantilização da paixão, a elitização e esbranquiçamento das arquibancadas.

Não as faixas, bandeiras, instrumentos, cânticos e muito menos a pirotecnia.

Pouco nos importamos com as punições, desde que sejamos ouvidos. Pois quem tenta nos calar e nos rotula como marginais, muitas vezes é quem menos tem moral para tal.

E aqui mandamos recados bem específicos:

Marginal não é quem torce, quem faz festa, mas quem rouba dinheiro da merenda das crianças!

Ao ex-promotor e agora deputado Fernando Capez (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, que se promoveu politicamente às custas da marginalização e propagação do preconceito para com os torcedores organizados, temos um recado.

A você, que sempre nos tratou como caso de polícia, mandamos um afetuoso abraço. Um abraço especial por ser agora alvo não apenas da Polícia Civil, como do Ministério Público de São Paulo, por cobrar propina em licitação das merendas escolares em contrato com o Governo do Estado de São Paulo.

Outro abraço afetuoso ao também promotor Roberto Senise Lisboa, da 5ª Promotoria do Consumidor da capital, que já tentou fechar os Gaviões da Fiel cerca de cinco vezes. Este, que também nos considera indevidos para a sociedade, também é alvo do Ministério Público de São Paulo, pelo recebimento de propinas.

Já aos torcedores, dizemos com toda a certeza, que se são senhores como o Fernando Capez e Roberto Senise Lisboa os certos, aceitamos o rótulo de errados. Somente neste caso!

E para as federações, estaduais e nacional, reiteramos que se suas punições tem o intuito de nos calar, saibam que isso não funcionará. Pois nessa história de certo e errado, temos pontos de vista bem diferente do de vocês.

Acendemos sinalizadores, não roubamos dinheiro público e/ou merenda de crianças.

Pelo futebol do povão, pela festa nas arquibancadas, JAMAIS nos calaremos.

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