segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Os 100 primeiros dias de François Hollande no poder


Os 100 primeiros dias de François Hollande no poder

François Hollande flutua em uma contradição curiosa: pesquisas indicam que a população aprova massivamente as medidas tomadas pelo presidente francês durante seus primeiros cem dias de mandato e, ao mesmo tempo, declara estar majoritariamente insatisfeita com sua ação. As pessoas, de fato, parecem desejar que ele vá mais rápido, mas Hollande busca sobretudo evitar a pirotecnia que tanto marcou a presidência de Sarkozy. A hora da verdade para Hollande será no final de agosto, com o fim das férias. O artigo é de Eduardo Febbro.

Paris - O general de Gaulle, que governou a França desde o fim da Segunda Guerra Mundial até 1969, dizia que um país onde há 365 queijos, ou seja, um para cada dia do ano, é muito difícil de governar. As primeiras pesquisas sobre os cem dias do presidente socialista François Hollande mostram que o general de Gaulle tinha razão. A França aprova massivamente as medidas tomadas pelo presidente francês durante seus primeiros cem dias de mandato e, ao mesmo tempo, declara estar majoritariamente insatisfeita com sua ação. 

Uma pesquisa realizada pelo IFOP revela que 54% dos franceses estão “descontentes” com a ação de Hollande. Apenas 43% das pessoas pesquisadas dizem estar “satisfeitas” com o que foi realizado desde que o dirigente socialista assumiu a presidência no dia 14 de maio. Um pessimismo geral envolve a percepção da sociedade. Mais a metade dos entrevistados (51%) disse que as coisas “pioraram” no país e 32% consideram que nada mudou. Por outro lado, 57% reconhecem que François Hollande está cumprindo suas promessas de campanha.

Hollande foi eleito com um princípio radicalmente oposto ao da agitada presidência que encarnou seu rival, o ex-presidente Nicolas Sarkozy, a quem derrotou nas eleições de abril e maio passado. Sarkozy era o presidente fulgurante, veloz e excessivo, enquanto que Hollande se apresentou com a promessa de assumir uma presidência “normal”. Esse argumento foi bem sucedido para vencer a eleição, mas se mostra menos convincente na hora de governar. 

O chefe de Estado evitou os desafios e não fez promessas irrealistas durante sua campanha. Seus primeiros 100 dias oferecem assim um contexto contrastado. Aos 54% que não estão contentes com sua gestão se agregam os 40% que não confiam em sua eficácia para resolver a crise que atinge os países da zona do eiró, 33% que não acreditam em sua capacidade para reduzir o déficit público e 27% que não acreditam que ele seja capaz de resolver o problema do desemprego.

No entanto, a aprovação de suas primeiras medidas é massiva. 82% aprovam a redução de 30% do salário do presidente e dos ministros. 75% apoiam a retirada antecipada das tropas francesas no Afeganistão (no final de 2012), 71% aprovam o retorno da aposentadoria aos 60 anos para as pessoas que começaram a trabalhar aos 18 (a medida aprovada nos anos 80 pelos socialistas foi suprimida em 2010 por Sarkozy). 68% estão de acordo com o controle dos alugueis, 68% se dizem satisfeitos com o aumento do imposto sobre a solidariedade e a fortuna (ISF), e 59% aprovam o aumento do salário mínimo.

François Hollande flutua em uma contradição curiosa: aprovação massiva de sua política, mas insatisfação global. As pessoas, de fato, parecem desejar que ele vá mais rápido, mas Hollande busca sobretudo evitar a pirotecnia que tanto marcou a presidência de Sarkozy. “Tomar seu tempo faz ganhar tempo”, disse a porta-voz do governo, Najat Valladu-Belkacem. 

De fato, nem todas as promessas incluídas na hoje famosa “agenda da mudança” apresentada pelo presidente em plena campanha eleitoral foram cumpridas. Segue na gaveta a principal delas, o “big bang fiscal”, ou seja, uma reforma substancial dos impostos. Os primeiros indícios dessa reforma só começarão a ser conhecidos em setembro. Até agora, o orçamento adotado em julho passado se limitou a desmontar as medidas mais injustas de Sarkozy. Outra promessa forte também segue no papel: a separação das atividades bancárias entre bancos de depósitos e instituições financeiras especulativas. Aqui também será preciso esperar até o final do ano.

Diferentemente de Nicolas Sarkozy, François Hollande desempenha o papel de presidente e deixa a cargo de seus ministros o trabalho de suas respectivas pastas. Nicolas Sarkozy fazia o contrário: era, ao mesmo tempo, chefe de Estado, primeiro ministro, ministro da Economia e do Interior. Ali onde Sarkozy corria, Hollande elabora, constrói consensos, programa. Essa normalidade lhe vale hoje a satisfação de uma sociedade que terminou anestesiada pelos excessos do sarkozysmo. Até os eleitores da conservadora UMP (partido de Sarkozy) agradecem o clima de tranquilidade que se instaurou com a eleição do presidente socialista. 

No entanto, em uma entrevista publicada pelo jornal Le Monde, Denis Muzet, presidente do instituto Mediascopie, assinalou que “esse estilo, que se define pelo plano e não pelo pleno, não será suficiente. Quanto mais nos afastarmos da eleição, menos satisfatória será essa resposta. François Hollande deverá mostrar outra coisa. A situação é difícil, tanto no plano nacional, em matéria econômica como no plano internacional, especialmente com a situação da Síria”.

A simplicidade e a lentidão assumidas por François Hollande se converteram hoje nos eixos dos ataques da oposição de direita. O ex-primeiro ministro François Fillon publicou um artigo no jornal conservador Le Figaro fustigando a normalidade e a lentidão: “nosso presidente normal deve entender que não há nada normal no mundo do qual agora ele é um dos principais responsáveis”. Fillon chamou Hollande a sair do imobilismo e atuar na crise síria, viajando a Moscou para convencer o presidente russo Vladimir Putin a terminar com o apoio ao presidente sírio Bachar el Assad. Mas Fillon esqueceu de mencionar que, sem a menor contrapartida, quando era presidente, Sarkozy convidou Assad para os desfiles de 14 de julho, na Avenida dos Champs-Élysées , para celebrar a Revolução Francesa. Naquela ocasião, Assad era o mesmo ditador de hoje.

François Hollande completa cem dias no poder sem provocar ondas ou desencadear paixões, A hora da verdade chegará no final de agosto, quando terminarem as férias e a agenda crise impuser a elaboração de perigosos equilíbrios onde a social democracia demonstrará se deixará para trás seus anos de pacto com o sistema financeira e buscará outro caminho.

Tradução: Katarina Peixoto

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