sexta-feira, 24 de julho de 2015

“Hoje, eu sou feliz porque meus filhos não passaram fome como eu passei”

24/07/2015 08:35
Tecnologias sociais garantem renda e segurança alimentar para agricultores familiares
 do Semiárido. Até junho, mais de 120 mil cisternas calçadão foram entregues para que 
famílias captem água da chuva e utilizem na produção de alimentos nos períodos de estiagem
Brasília, 24 – José Nivaldo dos Santos, 49 anos, e Maria Aparecida dos Santos, 44 anos, 
criaram quatro filhos na zona rural de Areial (PB), debaixo de muito sol e com muito trabalho. 
Localizado a 170 quilômetros da capital paraibana, no sertão do estado, o município tem solo
 arenoso. Lá a chuva é esparsa, como em todo Semiárido.

“Hoje, eu sou feliz porque meus filhos não passaram fome como eu passei”, lembra dona Cida.
 Além da fome, a sede também castigava. Em 1998, eles construíram por conta própria uma 
cisterna para armazenar a água da chuva que caía pelo telhado da casa. Antes, eles tinham 
que caminhar até 12 quilômetros para ter água para beber. “Tinha vez que eu saía às 4 horas 
da manhã e retornava perto do meio dia.”

                                                                                                                                      Foto: Ubirajara Machado/MDS
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O sofrimento do passado é apenas uma recordação. O sorriso brota feliz no rosto do casal, 
da mesma forma que as hortaliças, frutas e legumes agroecológicos surgem, mesmo em meio 
ao solo pobre em nutrientes e que, por isto, precisa de muita água. “Hoje, só dou risada”, brinca 
Seu Niva.

Em junho de 2013, o casal recebeu a cisterna calçadão – um dos modelos de tecnologia social
 para captação de água para produção –, resultado da parceria entre o Ministério do 
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e a Articulação Semiárido Brasileiro (Asa). Seu 
Niva fez questão de registrar a data no cimento da tecnologia. “Antes das cisternas, o pobre só 
plantava o coentro para temperar o feijão. Agora, a gente come salada, coisas que a gente não 
comia antes, como berinjela, repolho...”

A cisterna calçadão ganhou esse nome porque ela capta a água da chuva a partir de um calçadão 
de 200 m², o que equivale à metade de uma quadra de futebol de salão. Cercada por um meio fio, 
a construção é feita em declive. A água é conduzida para uma caixa de decantação e daí para o 
reservatório, no mesmo formato das cisternas de água para consumo, que têm capacidade para 
armazenar 52 mil litros de água. Coberta e fechada, a tecnologia é protegida da evaporação e das
 contaminações causadas por animais.

A melhoria da produção abriu outras possibilidades de geração de renda para o casal. Em 2014,
 primeiro ano após a construção, eles receberam R$ 10 mil com as vendas que fizeram para o 
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e para o Programa Nacional de Alimentação Escolar 
(Pnae). Em 2015, já conseguiram receber R$ 2 mil, no período entre janeiro e junho. “É o mesmo 
que antigamente conseguíamos ganhar em um ano todo. Os atravessadores diminuíam muito o
 preço das nossas coisas”, compara Dona Cida.

A renda ajuda também a apagar as marcas que a fome deixou. “Hoje eu como carne todos os dias. 
Antes, o pobre só comia carne no domingo”, lembra Seu Niva. Na propriedade, eles têm 24 tipos 
de produtos agrícolas, além de criar gansos, perus, galinhas e porcos. A família também tem um
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 banco de sementes crioulas – sem modificação genética – que garante autonomia na hora de produzir.

                                                                                                                                       Foto: Ubirajara Machado/MDS

Nivaldo conta que a felicidade da família é ali na zona rural de Areial. “Se me tirarem daqui, 
eu sou capaz de morrer logo. A minha vida é aqui”, conta. O filho Adevam Firmino dos Santos,
 de 20 anos, faz curso técnico em Agropecuária para ajudar o pai na plantação.

“Não tinha onde guardar água” – A cisterna calçadão também mudou a vida de Clóvis Galdino 
de Souto, 66 anos, e Maria José Barros de Souto, 62 anos, que prefere ser chamada de Dona 
Dé. Aposentados, eles vivem desde 1978 na zona rural de Cubati (PB), onde criaram cinco filhos.

A seca também os maltratou. Como o marido tinha que trabalhar fora para garantir o sustento, 
Dona Dé caminhava até seis quilômetros para poder pegar água. “Eu saía às três horas da
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madrugada, com os meninos todos pequenos, para ir pegar água. Não tinha água por aqui perto não.”

                                                                                                                                         Foto: Ubirajara Machado/MDS
Hoje, com as cisternas de água para beber e para ajudar na produção, a vida está diferente.
 “Antigamente chovia, mas não tinha onde a gente guardar a água”, afirma Clóvis. “A vida está 
boa demais em vista do sofrimento que a gente vivia aqui.”

A produção de alimentos, gradualmente, começa a ultrapassar as fronteiras da propriedade e 
da mesa da família. Por mês, mesmo com a seca, eles comercializam cerca de R$ 150, que 
ajuda a completar a feira. Para dona Dé, no entanto, a melhor conquista é uma alimentação
 mais saudável. “Antigamente era só o coentro pra colocar no feijão, agora eu tenho uma 
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variedade muito grande.”
A cisterna calçadão é uma das tecnologias sociais que o governo federal financia para que
 os agricultores familiares do Semiárido captem a água da chuva para utilizar na produção 
durante os períodos de estiagem. Segundo o secretário nacional de Segurança Alimentar e 
Nutricional do MDS, Arnoldo de Campos, já foram implantadas 120 mil tecnologias de água 
para produção, que estão transformando a vida das pessoas da região. “Em muitos casos é
 a primeira vez que a família sertaneja está tendo acesso à água para produzir. Por isso, 
estas cisternas são um pontapé inicial numa nova etapa da vida dessas famílias, que darão
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um salto na forma de convivência com o Semiárido, podendo até mesmo acessar novos mercados.”


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