segunda-feira, 5 de outubro de 2015

7ª Feira Estadual das Sementes Crioulas e Tecnologias Populares é realizada no município gaúcho de Canguçu

Publicado dia 02/10/2015
 
A preservação da biodiversidade e a sucessão rural serão foco da 7ª Feira Estadual de Sementes Crioulas e Tecnologias Populares, que ocorre de 2 a 4 de outubro, no Ginásio Municipal de Esportes Conrado Ernani Bento, em Canguçu (RS). Com cerca de 200 expositores inscritos – entre agricultores familiares e assentados –, a previsão da comissão organizadora é atrair um público de aproximadamente 20 mil pessoas. Informações adicionais estão disponíveis no site do evento (www.feiradassementes.com.br).
 
A Feira Estadual de Sementes Crioulas e Tecnologias Populares é promovida pela Cooperativa União de Agricultores Familiares de Canguçu e Região (Cooperativa União) e pela União das Associações Comunitárias do Interior de Canguçu (Unaic) em parceria com uma série de entidades locais e estaduais, com apoio do Incra. Realizada desde 2002, a iniciativa ocorre a cada dois anos reunindo agricultores de todas as regiões do Rio Grande do Sul e até de estados vizinhos. 
 
O objetivo central é proporcionar a troca de sementes e mudas entre os participantes, contribuindo para a preservação de material genético não aproveitado pelas distribuidoras industriais. Para tanto, os interessados dispõem de bancas gratuitas destinadas à venda e permuta de espécies vegetais.
 
Nos demais espaços, todos abertos ao público, haverá comercialização de produtos agroindustrializados, artesanato rural, assim como exposição de equipamentos e ferramentas inventados ou adaptados pelos agricultores. A programação ainda inclui oficinas, palestras e Feira do Livro dedicada exclusivamente a temáticas agrícolas.
 
Participação
O assentado Santo Pereira, frequenta a feira há várias edições. Nesta, levará milho caiano rajado, argentino e cunha, além de feijão, no intuito de conseguir novas espécies para seu lote. “Nos outros anos, sempre consegui trocar por qualidades diferentes”, testemunha.
 
Com interesse bem específico, Cléo Ferreira pretende obter sementes não transgênicas nem híbridas. O agricultor possui certificado de produtor ecológico e não quer colocar em risco seus cultivos agroecológicos. Ao mesmo tempo, revela os aspectos culturais das práticas utilizadas na feira. “Quando meus avós queriam renovar a lavoura, botavam as sementes em um saquinho e iam trocar com o vizinho de outra comunidade”, lembra.
 
Benefícios
O presidente da Cooperativa União e integrante da comissão organizadora, Edenir Duarte, considera que outro atrativo do evento é a oportunidade de melhoria de renda. “Quando o agricultor tem sua própria semente, não precisa comprar das empresas todos os anos e diminui o custo com insumos”, disse.
 
Já o assegurador de assistência técnica do Incra/RS, Nelson Araújo, aprofunda as implicações ambientais do tema. “Essas espécies passaram pela adaptação aos diferentes ambientes da Terra”. Por isso, uma lavoura apresenta plantas com características variáveis de resistência que, no conjunto, refletem-se em colheitas mais ou menos constantes ao longo dos anos. Rústicas e adaptadas, as variedades exigem menos insumos externos, até mesmo durante o processo de multiplicação. “São poupadoras de recursos naturais”, afirma. Araújo ainda ressalta questões de segurança alimentar. “Atualmente, a população mundial reduziu absurdamente o cardápio a poucas espécies. O resgate de sementes e mudas crioulas amplia os alimentos disponíveis”, assegura.
 
Futuro
A programação da 7ª Feira Estadual de Sementes Crioulas e Tecnologias Populares inicia com o Seminário sobre Sucessão Rural, no qual jovens irão relatar casos exitosos na administração das propriedades. Paralelamente, está sendo organizado o Acampamento da Juventude.
 
O público ainda poderá participar do 1º Congresso dos Guardiões Mirins e Juvenis das Sementes Crioulas, com roda de conversa, gincana e troca de espécies entre as crianças. Esta atividade dá prosseguimento a um projeto iniciado na sexta edição da feira (realizada em 2013), quando cada escola presente recebeu um kit com sementes para serem reproduzidas de forma coletiva ou por um estudante voluntário. 
 
Hoje, o trabalho está presente em cinco instituições de ensino de Canguçu e recebe orientação da Emater, por meio do contrato com o Incra/RS para atender os assentados. Dentro da iniciativa, dias de campo sobre agricultura ecológica e tradicional, direcionados aos agricultores e realizados nos lotes, são precedidos de aulas explicativas na escola. As crianças também se envolvem ativamente na seleção das variedades cultivadas pelas famílias e participam de atividades específicas como o plantio de plantas bioativas.  
 
“As sementes são ponto de partida para discutir o modo de produção”, justifica a professora Patrícia Bierhals, uma das idealizadoras dos Guardiões Mirins e Juvenis das Sementes. “Essas crianças farão escolhas na vida a partir dos conhecimentos a que estão tendo acesso e construindo hoje”, afirma. Por isso, a intenção dos coordenadores é apresentar os diferentes modelos agrícolas existentes e auxiliar na formação dos futuros agricultores.
 
Assessoria de Comunicação Social do Incra/RS
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