quinta-feira, 23 de julho de 2015

Tudo que parecia sólido desmanchou na internet


Por Fábio de Oliveira Ribeiro
Os jornais insuflaram a Revolução Francesa de 1789, criaram a guerra Hispano-Americana no final século XIX, fortaleceram o nazismo alemão nos anos 1930 e fomentaram o golpe de estado de 1964 no Brasil. No poder da imprensa de descrever o mundo, enquadrar a realidade e forjar cenários futuros, os jornalistas parecem acreditar que a “opinião publicada” se confunde com a “soberania popular”. Durante alguns séculos isto foi verdade.
Tudo que parecia sólido desmanchou na internet. A realidade se tornou volátil, impossível de ser enquadrada apenas pelos jornais. Os cenários futuros são muitos, complementares e contraditórios. As descrições do mundo mais sofisticadas e multifacetadas, impossíveis de serem condicionadas ou estranguladas pelos jornalistas. A “soberania popular” divorciou-se da “opinião publicada” exatamente no momento em que todos passaram a poder construir seu próprio imaginário político. As quatro últimas eleições presidenciais brasileira evidenciam este divórcio.
A imprensa luta para recuperar o poder que perdeu. E segue perdendo. A posse de Dilma Rousseff não foi impedida pelos jornalistas. O Parlamentarismo não poderá ser enfiado goela abaixo da população por um Congresso fragilizado que se apoia numa imprensa que afunda na irrelevância simbólica. O Impedimento da presidenta é um sonho jornalístico que pode se transformar em pesadelo para os donos de empresa de comunicação em razão do apoio dado ao PT por setores econômicos importantes.
A soberanização da “soberania popular” é um fato recente. Alguns políticos perceberam isto (Dilma Rousseff parece estar entre os mesmos). Mas há aqueles que insistem em acreditar no poder absoluto da “opinião publicada”. Este é o caso de Fernando Haddad, que publicou o seguinte Twitter hoje:

O prefeito de São Paulo confrontou a oposição midiática à sua decisão de reduzir a velocidade nas Marginais com a opinião jornalística favorável a semelhante medida adotada no exterior. Portanto, Haddad dá a entender que a legitimidade governamental deriva não da "soberania popular" exercitada nas urnas e sim do falatório jornalístico.
Durante a Ditadura havia um Ministro da Justiça que sempre repetia o mesmo bordão quando era abordado por jornalistas “Não tenho nada a declarar”. Não vivemos mais numa Democracia jugulada pela “opinião publicada”, portanto, o prefeito de São Paulo já pode fazer algo melhor do que citar o Le Monde. Ele pode simplesmente governar e mandar à merda os jornalistas do Estadão, Folha de São Paulo, Veja, Rede Globo, TV Cultura e TV Gazeta.

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