Os EUA e a conjuntura geopolítica internacional
O novo papel dos EUA depois do início do segundo período presidencial de Obama tem sido o de afirmar sua liderança no cenário mundial. Primeiro vai fortalecendo a economia interna em seu país, orientando a liquidez monetária para o consumo de massas. Depois, impulsiona a corrida tecnológica em serviços informáticos e de comunicação.
Mario Burkun*
A) A economia
O novo papel dos EUA depois do início do segundo período presidencial de Obama tem sido o de afirmar sua liderança no cenário mundial.
Primeiro vai fortalecendo a economia interna em seu país, orientando a liquidez monetária para o consumo de massas, e depois, impulsionando a corrida tecnológica em serviços informáticos e de comunicação, manufaturas de bens de capital e tecnologias limpas, assim como o uso de novas fontes de energia como o gás e o óleo de xisto.
A diminuição da desocupação de aproximadamente 12% em 2010 para 7% no momento atual leva a situações ideais na expansão do mercado de trabalho.
Junto a esta evolução do uso de trabalho vivo, se destaca o crescimento do produto interno bruto em cerca de 2% anual, produto que se multiplica com o volume do comércio, em seu mercado ampliado do NAFTA, com Canadá e México.
Isso acompanha uma busca para ampliar as relações de livre mercado com a União Europeia e com os países da costa do Pacífico da América Latina como o Chile, o Peru, a Colômbia e a Costa Rica.
Este papel, no campo da economia, vem acompanhado das modificações que promove e induz na governabilidade de seus aliados mais próximos ou mais distantes, antes de tentar resolver as situações estratégicas mais complexas com seus oponentes históricos.
B) A governabilidade internacional
Em uma análise de políticas crítica quanto ao realismo político dos republicanos e do primeiro período de Obama com propostas difíceis de colocar em prática, o chamado soft power da geopolítica de Obama do segundo período escolheu como primeira região de impacto a Costa do Pacifico, tratando de diminuir as situações de não resolução dos conflitos de alta intensidade com uma presença militar dissuasiva.
São um exemplo sua participação como observador e ator privilegiado em posição de diálogo dissuasivo nas situações de conflito entre as duas Coreias, ou as provocações entre a China Comunista, o Japão, Taiwan, Vietnã, as Filipinas pelas ilhas e ilhotes em zonas com recursos energéticos ou importância de controle geopolítico.
No segundo período de Obama, também se aprofundou a retirada da força militar como presença direta de tropas no Oriente Médio, tanto no Iraque como no Afeganistão e a substituição das mesmas por forças de carácter privado, tropas locais, e avanços tecnológicos de inteligência e combate fora do terreno operativo. Como exemplo, os Drones de combate e de informação.
Ao mesmo tempo, a intenção de substituir as formas mais opressivas de governos aliados, coibindo-os, gerando conflitos internos ou guerras locais com presença indireta de tropas próprias ou substituídas por aliados da OTAN.
Os exemplos são o conflito no norte de África, como Túnis ou Líbia.
As situações no Egito, Mali ou Somália. Em outro plano, mas sob as mesmas premissas, o freio à participação de Israel em Gaza, ou na tentativa de desatar uma guerra com o Irã.
Mantendo este raciocínio, seu papel foi importante na nova formulação das situações internas na Síria, levando ao limite da fragmentação territorial ou da irrupção das mobilizações via redes sociais e das massas nas ruas na Turquia, Egito e, com maior controle, no Iêmen e Emirados.
Este esquema complexo não fica fácil nem exitoso em relação aos propósitos iniciais. Entretanto, a constatação do quanto é “pantanosa” a região do Oriente Médio em relação às formas de governabilidade e que uma instabilidade pacífica e não em guerra declarada é melhor e é parte do reconhecimento de que os conflitos armados só têm vencedores circunstanciais e de curto prazo que geram uma situação de crise permanente, cada vez mais dominada por setores fundamentalistas entre todos os participantes.
Essa tentativa de poder imperial em um novo mapa de representação se manifesta também na Europa. A ampliação da União Europeia se ressente pelas dificuldades para resolver a crise financeira e o desemprego nos países da União Europeia, especialmente entre os jovens.
Indignados e desempregados manifestam sua inconformidade política na Grécia, Portugal, Espanha, Suécia, Itália, França, Bélgica, Eslovênia condicionando as políticas de ajuste da Troika (Banco Central Europeu, FMI, Comissão Econômica União Europeia).
Isto, acompanhado da centralidade da Alemanha e seu grau de concentração financeira e produtiva, desequilibra as possibilidades de compensar as regiões na distribuição dos resultados dos ajustes neoliberais e das rigidezes fiscais entre a base do Mediterrâneo e o centro norte europeu.
Enquanto isto acontece, os EUA tentam controlar seus aliados informações de inteligência estratégica, com um propósito similar a uma nova guerra fria na qual se sente imerso diante da expansão da Rússia na região natural da ex-União Soviética e da formulação política de uma aliança entre os componentes dos BRICS.
Enquanto isso, na economia, reiteramos que está desenvolvendo o acordo de livre comércio com a União Europeia, o que vem a ser o maior mercado mundial de comércio e produção no mundo globalizado, ampliando o NAFTA + Chile – Peru – Colômbia - Costa Rica - México, induz a crise financeira com a informação que transmitem as avaliadoras e qualificadoras de risco sobre a veracidade dos dados de política fiscal, os graus de endividamento bancário em papeis "tóxicos" e a descapitalização dos ativos financeiros.
Esta desestabilização facilita o alinhamento político e a consolidação de situações de controle para a "guerra" dos tipos de câmbio entre o dólar estadunidense, o Euro e o Iene.
C) A relação com América Latina
A tensão criada pela atitude de manejo unilateral sobre informação sensível no geopolítico e econômico sobre a região se multiplica permanentemente.
A maior atenção sobre os comportamentos e atitudes dos governos da região, em especial no que se refere aos processos de integração como o MERCOSUL ampliado com a Venezuela, a Bolívia e o Equador.
Assim como a conflitiva atitude surgida pela interrupção violenta do voo do presidente da Bolívia, em seu regresso de uma reunião sobre temas energéticos na Rússia, são amostras do ressurgimento de um controle supranacional com sinais alarmantes para a democracia representativa nos países com governos de formas nacional-populares.
O outro aspecto preocupante é a visão de conflito na competição pelos recursos naturais, em especial com os investimentos dos BRICS como a China, a Rússia e o Brasil na América Latina e na África.
No momento, os EUA mantêm como temas relevantes na região os de segurança urbana, como a delinquência em estupefacientes, os de delitos internacionais, como os de lavagem de ativos líquidos, produto de ilícitos internacionais, ou os de tráfico e sequestro de pessoas e violações de direitos humanos em sentido amplo do termo.
Somente no último período manifesta-se em temas estratégicos como o da geopolítica no Atlântico Sul, a Antártida, os recursos como minerais raros, a energia não convencional e a transferência de tecnologias à zonas de alto conflito, como o Oriente Médio.
A presença dos EUA deixa de ser apenas de carácter privado para assumir, cada vez mais, um papel de Estado que impulsiona desequilíbrios em casos de assimetrias na governabilidade em situações locais não favoráveis.
Talvez o maior interesse apareça na análise do manejo das tensões sociais no Brasil. Já que a dimensão desta Nação a coloca como um sócio estratégico que poderia ser um opositor potencial caso as relações de amizade deixassem de ter um carácter cordial e passassem a ser de disputa, com posturas e práticas desleais.
A dificuldade atual para que o Brasil aceite as premissas do soft powerdemocrata para a governabilidade regional e se rebele a uma mimetização social e cultural pode significar uma relação de conflito mais explícito e relevante.
A outra vinculação historicamente privilegiada para a política exterior de EUA é a existente com o México. Relação cujo caráter ontológico é a base Antropológica Cultural da população e do território comum.
Ao mesmo tempo em que se mantém continuamente o sentimento e a subjetividade de amor e ódio, de discriminação e de integração, de dependência e de formas multiculturais.
O México representa a inserção do mercado ampliado na América Latina, com seus efeitos econômicos, populacionais, de controle da tensão social e de governabilidade.
Para a presença dos EUA é primordial um manejo de baixa conflitividade que permita um papel subalterno com a América Central e o Caribe.
Resta analisar a subsistência no tempo, com escassas modificações da política exterior com respeito a Cuba. O que pode ser produto de uma falsa concepção a respeito do nível de consciência do povo cubano.
A esperança de uma modificação política substancial com a finalização da liderança de Castro parece não ter resposta cronológica a curto prazo. A atitude de não reconhecimento e bloqueio da situação gera um anacronismo político regional que não facilita um vínculo integrador em uma política de conjunto.
D) Conclusão
É provável que uma estratégia mais racional seria mais adequada para uma conjuntura de crise e de encorajamento dos conflitos na América Latina, que podem ter repercussões mais serias que as do Oriente Médio nos EUA.
A proximidade geográfica e a complexidade econômica estão menosprezadas em sua importância em momentos de inflexão do ciclo econômico internacional.
Uma não integração política que contemple a intersubjetividade pode levar a que a região entre em um impasse de governabilidade que dificulte um crescimento inclusivo e que fragmente e separe a região da América do Norte da América do Sul, gerando uma zona tampão com a América Central e o Caribe.
A dimensão desta tensão produz formas de dominação que procuram submissões, cuja rejeição impulsa os processos nacional-populares a uma integração conflitiva do continente, com sequelas na geopolítica internacional.
O conteúdo da mensagem de uma teoria política de poder suave se desvirtua com o empirismo próprio à não aceitação de relações sociais que buscam expressões de liberdade em marcos democráticos respeitosos ou dignificadores, dos sujeitos da práxis de transformação.
A tentativa de continuar a mutação das formas de governo que controlam a tensão social para esvaziar os conteúdos revolucionários de transformação à emancipação social se manifestam no Oriente Médio, na Europa e, especialmente, na América Latina.
Esta estratégia dos EUA demonstra a falta de percepção de fenômenos que podem levar a políticas de fragmentação social e dissociação entre a consciência social democratizadora ou o conservadorismo fundamentalista.
Alcançar uma transformação democrática da governabilidade, com respeito às diferenças e protagonismo dos que historicamente foram subjugados pela pobreza e discriminação, é o objetivo dos movimentos sociais que buscam relações políticas compatíveis com o momento histórico.
Mario Burkun é professor da Universidade de Buenos Aires
Tradução: Liborio Júnior
O novo papel dos EUA depois do início do segundo período presidencial de Obama tem sido o de afirmar sua liderança no cenário mundial.
Primeiro vai fortalecendo a economia interna em seu país, orientando a liquidez monetária para o consumo de massas, e depois, impulsionando a corrida tecnológica em serviços informáticos e de comunicação, manufaturas de bens de capital e tecnologias limpas, assim como o uso de novas fontes de energia como o gás e o óleo de xisto.
A diminuição da desocupação de aproximadamente 12% em 2010 para 7% no momento atual leva a situações ideais na expansão do mercado de trabalho.
Junto a esta evolução do uso de trabalho vivo, se destaca o crescimento do produto interno bruto em cerca de 2% anual, produto que se multiplica com o volume do comércio, em seu mercado ampliado do NAFTA, com Canadá e México.
Isso acompanha uma busca para ampliar as relações de livre mercado com a União Europeia e com os países da costa do Pacífico da América Latina como o Chile, o Peru, a Colômbia e a Costa Rica.
Este papel, no campo da economia, vem acompanhado das modificações que promove e induz na governabilidade de seus aliados mais próximos ou mais distantes, antes de tentar resolver as situações estratégicas mais complexas com seus oponentes históricos.
B) A governabilidade internacional
Em uma análise de políticas crítica quanto ao realismo político dos republicanos e do primeiro período de Obama com propostas difíceis de colocar em prática, o chamado soft power da geopolítica de Obama do segundo período escolheu como primeira região de impacto a Costa do Pacifico, tratando de diminuir as situações de não resolução dos conflitos de alta intensidade com uma presença militar dissuasiva.
São um exemplo sua participação como observador e ator privilegiado em posição de diálogo dissuasivo nas situações de conflito entre as duas Coreias, ou as provocações entre a China Comunista, o Japão, Taiwan, Vietnã, as Filipinas pelas ilhas e ilhotes em zonas com recursos energéticos ou importância de controle geopolítico.
No segundo período de Obama, também se aprofundou a retirada da força militar como presença direta de tropas no Oriente Médio, tanto no Iraque como no Afeganistão e a substituição das mesmas por forças de carácter privado, tropas locais, e avanços tecnológicos de inteligência e combate fora do terreno operativo. Como exemplo, os Drones de combate e de informação.
Ao mesmo tempo, a intenção de substituir as formas mais opressivas de governos aliados, coibindo-os, gerando conflitos internos ou guerras locais com presença indireta de tropas próprias ou substituídas por aliados da OTAN.
Os exemplos são o conflito no norte de África, como Túnis ou Líbia.
As situações no Egito, Mali ou Somália. Em outro plano, mas sob as mesmas premissas, o freio à participação de Israel em Gaza, ou na tentativa de desatar uma guerra com o Irã.
Mantendo este raciocínio, seu papel foi importante na nova formulação das situações internas na Síria, levando ao limite da fragmentação territorial ou da irrupção das mobilizações via redes sociais e das massas nas ruas na Turquia, Egito e, com maior controle, no Iêmen e Emirados.
Este esquema complexo não fica fácil nem exitoso em relação aos propósitos iniciais. Entretanto, a constatação do quanto é “pantanosa” a região do Oriente Médio em relação às formas de governabilidade e que uma instabilidade pacífica e não em guerra declarada é melhor e é parte do reconhecimento de que os conflitos armados só têm vencedores circunstanciais e de curto prazo que geram uma situação de crise permanente, cada vez mais dominada por setores fundamentalistas entre todos os participantes.
Essa tentativa de poder imperial em um novo mapa de representação se manifesta também na Europa. A ampliação da União Europeia se ressente pelas dificuldades para resolver a crise financeira e o desemprego nos países da União Europeia, especialmente entre os jovens.
Indignados e desempregados manifestam sua inconformidade política na Grécia, Portugal, Espanha, Suécia, Itália, França, Bélgica, Eslovênia condicionando as políticas de ajuste da Troika (Banco Central Europeu, FMI, Comissão Econômica União Europeia).
Isto, acompanhado da centralidade da Alemanha e seu grau de concentração financeira e produtiva, desequilibra as possibilidades de compensar as regiões na distribuição dos resultados dos ajustes neoliberais e das rigidezes fiscais entre a base do Mediterrâneo e o centro norte europeu.
Enquanto isto acontece, os EUA tentam controlar seus aliados informações de inteligência estratégica, com um propósito similar a uma nova guerra fria na qual se sente imerso diante da expansão da Rússia na região natural da ex-União Soviética e da formulação política de uma aliança entre os componentes dos BRICS.
Enquanto isso, na economia, reiteramos que está desenvolvendo o acordo de livre comércio com a União Europeia, o que vem a ser o maior mercado mundial de comércio e produção no mundo globalizado, ampliando o NAFTA + Chile – Peru – Colômbia - Costa Rica - México, induz a crise financeira com a informação que transmitem as avaliadoras e qualificadoras de risco sobre a veracidade dos dados de política fiscal, os graus de endividamento bancário em papeis "tóxicos" e a descapitalização dos ativos financeiros.
Esta desestabilização facilita o alinhamento político e a consolidação de situações de controle para a "guerra" dos tipos de câmbio entre o dólar estadunidense, o Euro e o Iene.
C) A relação com América Latina
A tensão criada pela atitude de manejo unilateral sobre informação sensível no geopolítico e econômico sobre a região se multiplica permanentemente.
A maior atenção sobre os comportamentos e atitudes dos governos da região, em especial no que se refere aos processos de integração como o MERCOSUL ampliado com a Venezuela, a Bolívia e o Equador.
Assim como a conflitiva atitude surgida pela interrupção violenta do voo do presidente da Bolívia, em seu regresso de uma reunião sobre temas energéticos na Rússia, são amostras do ressurgimento de um controle supranacional com sinais alarmantes para a democracia representativa nos países com governos de formas nacional-populares.
O outro aspecto preocupante é a visão de conflito na competição pelos recursos naturais, em especial com os investimentos dos BRICS como a China, a Rússia e o Brasil na América Latina e na África.
No momento, os EUA mantêm como temas relevantes na região os de segurança urbana, como a delinquência em estupefacientes, os de delitos internacionais, como os de lavagem de ativos líquidos, produto de ilícitos internacionais, ou os de tráfico e sequestro de pessoas e violações de direitos humanos em sentido amplo do termo.
Somente no último período manifesta-se em temas estratégicos como o da geopolítica no Atlântico Sul, a Antártida, os recursos como minerais raros, a energia não convencional e a transferência de tecnologias à zonas de alto conflito, como o Oriente Médio.
A presença dos EUA deixa de ser apenas de carácter privado para assumir, cada vez mais, um papel de Estado que impulsiona desequilíbrios em casos de assimetrias na governabilidade em situações locais não favoráveis.
Talvez o maior interesse apareça na análise do manejo das tensões sociais no Brasil. Já que a dimensão desta Nação a coloca como um sócio estratégico que poderia ser um opositor potencial caso as relações de amizade deixassem de ter um carácter cordial e passassem a ser de disputa, com posturas e práticas desleais.
A dificuldade atual para que o Brasil aceite as premissas do soft powerdemocrata para a governabilidade regional e se rebele a uma mimetização social e cultural pode significar uma relação de conflito mais explícito e relevante.
A outra vinculação historicamente privilegiada para a política exterior de EUA é a existente com o México. Relação cujo caráter ontológico é a base Antropológica Cultural da população e do território comum.
Ao mesmo tempo em que se mantém continuamente o sentimento e a subjetividade de amor e ódio, de discriminação e de integração, de dependência e de formas multiculturais.
O México representa a inserção do mercado ampliado na América Latina, com seus efeitos econômicos, populacionais, de controle da tensão social e de governabilidade.
Para a presença dos EUA é primordial um manejo de baixa conflitividade que permita um papel subalterno com a América Central e o Caribe.
Resta analisar a subsistência no tempo, com escassas modificações da política exterior com respeito a Cuba. O que pode ser produto de uma falsa concepção a respeito do nível de consciência do povo cubano.
A esperança de uma modificação política substancial com a finalização da liderança de Castro parece não ter resposta cronológica a curto prazo. A atitude de não reconhecimento e bloqueio da situação gera um anacronismo político regional que não facilita um vínculo integrador em uma política de conjunto.
D) Conclusão
É provável que uma estratégia mais racional seria mais adequada para uma conjuntura de crise e de encorajamento dos conflitos na América Latina, que podem ter repercussões mais serias que as do Oriente Médio nos EUA.
A proximidade geográfica e a complexidade econômica estão menosprezadas em sua importância em momentos de inflexão do ciclo econômico internacional.
Uma não integração política que contemple a intersubjetividade pode levar a que a região entre em um impasse de governabilidade que dificulte um crescimento inclusivo e que fragmente e separe a região da América do Norte da América do Sul, gerando uma zona tampão com a América Central e o Caribe.
A dimensão desta tensão produz formas de dominação que procuram submissões, cuja rejeição impulsa os processos nacional-populares a uma integração conflitiva do continente, com sequelas na geopolítica internacional.
O conteúdo da mensagem de uma teoria política de poder suave se desvirtua com o empirismo próprio à não aceitação de relações sociais que buscam expressões de liberdade em marcos democráticos respeitosos ou dignificadores, dos sujeitos da práxis de transformação.
A tentativa de continuar a mutação das formas de governo que controlam a tensão social para esvaziar os conteúdos revolucionários de transformação à emancipação social se manifestam no Oriente Médio, na Europa e, especialmente, na América Latina.
Esta estratégia dos EUA demonstra a falta de percepção de fenômenos que podem levar a políticas de fragmentação social e dissociação entre a consciência social democratizadora ou o conservadorismo fundamentalista.
Alcançar uma transformação democrática da governabilidade, com respeito às diferenças e protagonismo dos que historicamente foram subjugados pela pobreza e discriminação, é o objetivo dos movimentos sociais que buscam relações políticas compatíveis com o momento histórico.
Mario Burkun é professor da Universidade de Buenos Aires
Tradução: Liborio Júnior
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