quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Livro percorre os 60 anos de carreira do jornalista José Hamilton Ribeiro


Alana Rodrigues* 03/09/2015 09:30
A trajetória de um repórter veterano contada por um estudante de jornalismo. Quase dez anos depois, uma biografia publicada e a amizade de um ídolo. Em 2003, o jornalista Arnon Gomes esbarrou com Zé Hamilton Ribeiro pelos corredores da Rede Globo em São Paulo durante uma visita. Tomou coragem e contou sobre o seu desejo em falar sobre a carreira dele em seu projeto de conclusão de curso. Do encontro nasceu o livro "O jornalista mais premiado do Brasil".

Crédito:Alf Ribeiro
Livro conta os "causos" da carreira de Zé Hamilton Ribeiro
Apresentado à Universidade Santa Cecília (Unisanta), de Santos-SP, em 2004, a obra de 260 páginas, divididas em dez capítulos, traz de forma linear como foi a carreira do repórter que ganhou sete prêmios Esso, além de impressões de de familiares e profissionais que trabalharam ao lado dele. 

Depois de reescrever o livro pelo menos duas vezes, Arnon Gomes, hoje editor-executivo do jornal Folha da Região, de Araçatuba (SP), ganhou o concurso de  fomento à publicação de livros, da Secretaria Municipal de Cultura, por meio da Lei Rouanet, e conseguiu publicá-lo pela Eko Gráfica.
 
A publicação da obra neste ano coincide com pelo menos três datas que marcam a vida de Zé Hamilton: 80 anos de idade, 60 de carreira e 40 do término da Guerra do Vietnã. "Um ponto interessante do livro é tentar explicar como um jornalista conseguiu ficar na reportagem por tanto tempo. Não é simplesmente a paixão, mas a adaptação às mudanças que a profissão teve ao longo dos anos", explica Gomes.

Histórias

Histórias não faltam na trajetória de Zé Hamilton. Lembrado por suas reportagens que marcaram época, como as produzidas para a lendária revista Realidade, em especial, a cobertura da guerra do Vietnã (1965-1975), da qual saiu sem parte da perna esquerda ao pisar numa mina, o repórter iniciou a carreira na década de 1950, quando deixou sua cidade natal, Santa Rosa do Viterbo (SP), para estudar na Faculdade Cásper Líbero. Ainda na universidade, começou a trabalhar na Rádio Bandeirantes.

Uma das passagens citadas por Arnon como uma das descobertas mais curiosas detalha a greve mobilizada por Zé Hamilton na Cásper. Então presidente do centro acadêmico, ele e outros colegas decidiram pedir a contratação de melhores jornalistas para dar aulas. Ele foi expulso da faculdade que, anos mais tarde, o convidou para lecionar. "Eu não tinha dimensão dessas histórias. E elas me chamaram a atenção no decorrer da pesquisa", diz.

Outra surpresa foi quando ele perguntou ao repórter qual era a reportagem que mais marcou. Zé não citou nenhum trabalho premiado. Recordou de “Coronel não morre”, publicada na edição de novembro de 1966 de Realidade. Para mostrar como funcionava o coronelismo naquela época, o jornalista acompanhou o cotidiano do fazendeiro Chico Heráclio, proprietário de terras em Limoeiro, na zona do agreste de Pernambuco. 
 
A obra refaz as passagens de Zé pela Folha de S.Paulo, por jornais do interior paulista na época da ditadura, pela revista Quatro Rodas, pelo Sindicato dos Jornalistas de SP, até a sua entrada na TV Globo, onde ainda exibe nas manhãs de domingo grandes reportagens no "Globo Rural". "O livro procura mostrar que história dele é muito maior que a de um correspondente de guerra que esteve no Vietnã e perdeu parte da perna", destaca Gomes.

Entre entrevistas e conversas descontraídas, a amizade entre o jovem jornalista e o experiente repórter foi crescendo. "Foram mais do que entrevistas, mas verdadeiras aulas de jornalismo. Cada uma era mais surpreendente do que a outra. Fiquei muito feliz por ele ter vindo em Araçatuba prestigiar o lançamento do livro", diz.

O próximo lançamento será em São Paulo, no dia 3 de outubro (sábado), na Livraria da Vila, das 16h às 19h. Haverá um bate-papo com Zé Hamilton e sessão de autógrafos. Endereço: Alameda Lorena, 1731 - Jardim Paulista.

Mais homenagens

Outra homenagem ao jornalista foi realizada na noite da última quarta-feira (2/9), durante a segunda edição da "Série Repórter", encontro promovido por Eliane Brum no Itaú Cultural. Zé Hamilton participou da última mesa do evento, às 20h, contando suas experiências acumuladas ao longo de 60 anos no jornalismo. Para o painel, foram convidados os repórteres Ricardo Kostcho, Clóvis Rossi e Lúcio Flávio Pinto. 

Questionado por Ricardo Kotscho se a reportagem está morrendo, Zé Hamilton disse que o que falta é estrutura nos jornais para dar espaço a publicações mais profundas. Citou exceções como as revistas Piauí e Brasileiros e destacou que a  TV oferece uma oportunidade maior. "Há mais chance de manutenção do que a escrita", avaliou.

O repórter recordou a sua "fórmula da reportagem": GR=[(BC + BF)] x [(T x T')n]. Ou seja, uma grande reportagem (GR) depende de um bom começo (BC) unido a um bom final (BF), combinado com trabalho (T) e talento (T’), potencializados com a energia necessária (n).  

Depois de relembrar reportagens marcantes, personagens, pautas que ainda quer fazer e trabalhos que não deram certo, Zé falou também sobre ética no jornalismo e destacou que o elemento essencial em um repórter é a vocação para conseguir informações e passá-la para frente do "jeito mais fácil possível". 

* Com supervisão de Vanessa Gonçalves.
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