segunda-feira, 25 de maio de 2015

Beneficiário do Bolsa Família vai estudar em Stanford

25/05/2015 11:05
Estudante do Capão Redondo (SP) foi aceito por outras quatro universidades 
norte-americanas. Exemplos de superação semelhantes se multiplicam pelo país
Brasília, 25 - No final de agosto, o jovem Gustavo Torres, 17 anos, embarcará para a
 Califórnia (EUA) para cursar Engenharia Física na renomada Universidade de Stanford,
 celeiro de ganhadores do Prêmio Nobel. Aluno aplicado, ele foi aceito também por outras 
quatro grandes instituições de ensino superior norte-americanas: Harvard, Duke, 
Columbia e MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). A viagem marcará
 uma mudança radical na trajetória da família Torres dos Santos.

Gustavo nasceu pobre. Morador do Capão Redondo, uma das áreas mais violentas 
da Grande São Paulo, beneficiário do Bolsa Família, o filho da cuidadora de idosos 
Juldete Torres dos Santos e do eletricista Adalberto Claro da Silva se dedicou aos 
estudos: “Sempre soube que os estudos possibilitariam a realização dos meus ideais.
 Até mesmo quando eu me sentava no fundão da sala de aula, eu procurava ensinar 
os alunos mais bagunceiros, e eles me deixavam mais descontraído, menos nerd, 
reduzindo minha timidez”, revela.

O adolescente foi aluno da Escola Estadual Miguel Munhoz Filho. Depois de exibir 
bom desempenho em uma olimpíada de matemática, ganhou a indicação da professora 
para disputar uma bolsa no Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos 
(Ismart), organização que apoia estudantes de baixa renda e oferece bolsas de 
estudos em colégios particulares de excelência em São Paulo e no Rio de Janeiro. 
Gustavo ganhou bolsa também para estudar inglês.

Mesmo com a pesada rotina de estudos, foi dar aulas na sua antiga escola do Capão
 Redondo aos sábados, para ajudar colegas que tinham interesse em conseguir bolsa
 de estudos como ele. No início deste mês, o adolescente, que sempre sonhou em 
estudar no Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde também foi aceito, 
optou por Stanford. “O lugar tem mais a ver comigo e serei mais feliz lá”, acredita.

Gustavo ganhou bolsa da instituição de US$ 62 mil por ano e quer voltar ao Brasil 
após a conclusão do curso de quatro anos. “Quero fazer a diferença aqui e retribuir
 toda a ajuda recebida.”

Do lixão à academia – A mesma motivação em compartilhar o conhecimento 
adquirido é demostrada por Dorival Gonçalves dos Santos Filho. Aos 32 anos e 
cursando doutorado em Linguística na Universidade Federal de Santa Catarina 
(UFSC), Dorival também contrariou as expectativas que a trajetória de pobreza 
da família pareciam lhe reservar.

Natural de Piedade, cidade do interior de São Paulo, Dorival acompanhava as 
incursões da mãe no lixão quando tinha quatro anos de idade. Catava material 
reciclável para tentar vender e garantir algum dinheiro complementar à renda 
da família, já que o pai trabalhava na área da construção e quase não ficava 
em casa. “Nós pegávamos tudo do lixão. Passava fome, fiquei muito doente, 
tive desnutrição”, conta.

Dorival precisou deixar os estudos na 8ª série, embora a mãe, Crélia de Oliveira,
 que só chegou à 4ª série, sempre o incentivasse a estudar. “Ela me ensinou a
 gostar de ler me dando os gibis que encontrava no lixo”, diz. A volta aos estudos
 aconteceu bem mais tarde, quando ele já havia completado 20 anos.

“Não pensava em ir pra faculdade. Quando surgiu o ProUni, pensei em talvez fazer 
tentar o programa, mas queria mesmo só terminar o ensino médio.” Em 2004, com 
a complementação de renda do programa Bolsa Família paga à mãe, Dorival 
sentiu-se motivado a tentar o ensino superior. “Com o Bolsa Família, a renda 
deu uma melhorada e eu fui buscar meu sonho.”

Apaixonado pela leitura e pelas letras, estimulado também pelos professores e 
com uma biblioteca particular com centenas de títulos retirados do lixo, o ex-catador
 conquistou uma vaga na Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) aos 24 anos.
 Em 2010, formou-se em Letras, com habilitação em francês. Tinha novos sonhos.
 Queria seguir a carreira acadêmica.

No ano seguinte, mudou-se para Florianópolis (SC) e iniciou o mestrado em 
Linguística. Dava aulas para se sustentar. “A primeira vez que pisei numa
 sala de aula como professor, eu chorei. Foi uma emoção enorme”, relata 
Dorival, que espera continuar lecionando e garantir uma vida melhor à família, 
que agora vive em Guará Mirim, na região norte de Santa Catarina. “Minha 
mãe está muito orgulhosa. Sou o primeiro filho a conseguir uma graduação. 
Eu agradeço muito todo o incentivo que recebi dela.”

Um novo ciclo – Como Gustavo e Dorival, toda uma geração de brasileiros
 dá passos firmes para superar a história de pobreza de seus pais por meio dos 
estudos. “Há uns 10 anos, se você perguntasse para os estudantes do 3º ano 
quem iria fazer universidade, três ou quatro levantavam a mão. Hoje, se você 
faz a mesma pergunta, 100% levantam a mão e acreditam que pode entrar na
 universidade”, afirma Humberto Antônio Nunes Mendes, coordenador da Escola
 de Ensino Médio Governador Adauto Bezerra, em Fortaleza (CE), onde cerca
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Humberto Mendes aponta mudança de mentalidade dos alunos. Foto:Ubirajara Machado/MDS


























 de 80% dos alunos da escola são beneficiários do Bolsa Família.

Mendes conta que os adolescentes são estimulados a acreditar que suas conquistas não 
são individuais. São da família e da comunidade onde vivem. “Entendemos que eles podem
 ser agentes de transformação no meio onde vivem. O que nos move nesse trabalho pedagógico 
é isso. Sentimos que somos parte da conquista deles.”

O coordenador destaca que os resultados positivos são reflexo do trabalho dos professores, da 
gestão e de um projeto pedagógico ousado. “Muitos desses meninos são os primeiros de uma 
geração que estão entrando em uma universidade. Isso significa que eles estão acreditando 
que podem fazer diferente. Muitas vezes esses estudantes são as pessoas mais cultas de 
uma família carente.”

Ex-aluna da Adauto Bezerra, Rebeca Rodrigues, 18 anos, foi beneficiária do Bolsa Família. 
Aprovada para o curso de História da Universidade Estadual do Ceará, depois de fazer o 
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ela acredita que a exigência de frequência às 
aulas prevista no programa ajudou em sua trajetória. “Muita gente não sabe a importância
 que tem o Bolsa Família porque sempre tem tudo muito fácil. Para a minha mãe até hoje
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  Condicionalidade do Bolsa Família auxiliou Rebeca Rodrigues. Foto:Ubirajara Machado/MDS
 

























faz muita diferença.”

Realizada por conseguir atingir um sonho que parecia impossível, Thays Cruz Souza, 
17 anos, cursa Física na mesma universidade. Também beneficiária do programa de 
transferência de renda condicionada, ela diz que o benefício fez toda a diferença para
 a família. “Sempre enfrentamos dificuldades. Eu moro bem distante da escola e preciso
 pegar ônibus. Então, usava o dinheiro para passagem e merenda escolar porque eu
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Thays Souza diz que o benefício fez a diferença para sua família. Foto: Ubirajara Machado/MDS


























ficava o dia todo na escola”, relembra a ex-aluna do Adauto Bezerra.
Em todo o Brasil, cerca de 17 milhões de alunos são beneficiários do Bolsa Família 
e 76.602 escolas têm maioria de alunos do programa.

Informações sobre os programas do MDS:

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