domingo, 12 de julho de 2015

‘Igreja e movimentos populares devem estar juntos nos processos de mudança’, afirma Papa



Adital
O II Encontro Mundial dos Movimentos Populares culminou, nesta quinta-feira, 09 de julho, com a entrega da Carta de Santa Cruz ao Papa Francisco: "Necessitamos e queremos uma mudança”. Foram algumas das palavras mais destacadas do Papa aos movimentos. Depois de reconhecer que "há algo que não anda bem” se existem tantas pessoas sem teto, sem terra e sem trabalho, disse que há um fio comum, que liga todos os tipos de exclusão, e que este sistema já não vinga mais.
aciprensaTrês foram os eixos mais importantes para o Santo Padre: uma economia a serviço dos seres humanos, a união dos povos no caminho rumo à paz e a justiça, e defender a mãe terra. O Papa concluiu com um chamado aos movimentos: "o futuro da humanidade não está apenas nas mãos dos potentes, mas na mãos dos povos que se organizam, eu os acompanho”.
Participaram do Encontro delegados dos movimentos populares de todo o mundo: trabalhadores precários e da economia informal, camponeses sem terra, "favelados” (habitantes dos bairros pobres), indígenas, imigrantes, além de representantes dos movimentos sociais. Também estavam presentes: o cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, presidente do Conselho de Justiça e Paz do Vaticano, e o monsenhor Marcelo Sánchez Sorondo, chanceler da Pontifícia Academia. O primeiro Encontro de Movimentos Populares com o Papa teve lugar no Vaticano, em outubro de 2014, e dele participou o presidente da Bolívia, Evo Morales, que, ontem (09), também pronunciou um discurso no recinto da Expo Feria, sede do evento, do qual participaram 3 mil pessoas.
Em seu discurso, Francisco afirmou que, em Roma, sentiu "algo muito lindo”: fraternidade, garra, entrega, sede de justiça. Hoje (09), em Santa Cruz de la Sierra, volto a sentir a mesma coisa. Obrigado por isso”. Ele disse estar alegre ao ver a Igreja com as portas abertas aos ativistas sociais, e pediu que se envolva, acompanhe e consiga sistematizar em cada diocese, em cada Comissão de Justiça e Paz, uma colaboração real, permanente e comprometida com os movimentos populares. "Convido a todos, bispos, sacerdotes e leigos, juntamente com as organizações sociais das periferias urbanas e rurais, a aprofundarem este encontro”.
O Papa assinalou que os três T - Terra, Teto e Trabalho, debatidos durante os três dias do Encontro – são direitos sagrados. "Vale a pena, vale a pena lutar por eles. Que o clamor dos excluídos seja escutado na América Latina e em toda a terra”.
Em sua visão, o Papa acredita que o mundo necessita de uma mudança. São problemas que têm uma matriz global e que, hoje, nenhum Estado pode resolver por si mesmo. Ele propõe que as pessoas façam as seguintes perguntas:
Reconhecemos, seriamente, que as coisas não andam bem em um mundo onde há tantos camponeses sem terra, tantas famílias sem teto, tantos trabalhadores sem direitos, tantas pessoas feridas em sua dignidade?
Reconhecemos que as coisas não andam bem quando estalam tantas guerras sem sentido e a violência fratricida se apropria até dos nossos bairros?
¿Reconhecemos que as coisas não andam bem quando o solo, a água, o ar e todos os seres da criação estão sob permanente ameaça?
"Então, se reconhecemos isto, digamos sem medo: necessitamos e queremos uma mudança”, destacou. Para Francisco, estas questões não estão isoladas, mas unidas por um fio invisível. "Pergunto-me se somos capazes de reconhecer que essas realidades destruidoras respondem a um sistema que tem se feito global. Reconhecemos que esse sistema impõe a lógica dos ganhos a qualquer custo, sem pensar na exclusão social ou a destruição da natureza?”
O Papa disse ademais que os movimentos populares são "semeadores de mudança”. "É imprescindível que, juntamente com a reivindicação dos seus legítimos direitos, os povos e suas organizações sociais construam uma alternativa humana à globalização excludente. (...). Aos dirigentes peço: sejam criativos e nunca percam o afeto pelo próximo, porque o pai da mentira sabe usurpar palavras nobres, promover modas intelectuais e adotar poses ideológicas, mas se vocês constroem sobre bases sólidas, sobre as necessidades reais e a experiência viva dos seus irmãos, dos camponeses e indígenas, dos trabalhadores excluídos e das famílias marginalizadas, seguramente, não vão se equivocar”.
lavozdelsandinismoA Igreja, acrescentou o Sumo Pontífice, não pode nem deve estar alheia a esse processo, no anúncio do Evangelho. Muitos sacerdotes e agentes pastorais cumprem esta tarefa acompanhando e promovendo os excluídos de todo o mundo, junto a cooperativas, impulsionando empreendimentos, construindo moradias, trabalhando abnegadamente nos campos da saúde, do esporte e da educação. "Estou convencido de que a colaboração respeitosa com os movimentos populares pode potencializar esses esforços e fortalecer os processos de mudança”.
Ante esse contexto, Francisco propõe três tarefas que requerem o decisivo aporte do conjunto dos movimentos populares: colocar a economia a serviço dos povos; unir os povos no caminho da paz e da justiça; e a terceira tarefa, talvez a mais importante que devemos assumir hoje, é defender a Mãe Terra.
Nesta sexta-feira, 10 de julho, o Santo Padre visitou os reclusos da prisão de Palmasola e encontrou, privadamente, os bispos da Bolívia. Às 12h45 (hora local) chegou ao aeroporto de Viru Viru, em Santa Cruz de la Sierra, de donde tomou o avião que o leva para a última etapa de sua viagem apostólica: Paraguai.
Leia na íntegra o discurso do Papa Francisco aos movimentos populares.

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