quinta-feira, 9 de julho de 2015

Adiar votação da entrega do pré-sal foi vitória possível sob a maré da direita


9 de julho de 2015 | 02:25 Autor: Fernando Brito
serraadiamento
Não foi o ideal, mas foi o melhor possível, nas condições de desagregação da base governista no Congresso, o adiamento por pelo menos 45 dias, da votação do projeto de José Serra que retirava da Petrobras o direito à operação exclusiva dos poços e uma parcela mínima de 30% da exploração do petróleo do pré-sal brasileiro.
No quadro “Tiririca” – pior do que está, não fica” – de enfraquecimento do Governo nas duas casas do Congresso, não é difícil imaginar o que seria o projeto ser aprovado e cair, já, nas mãos de Eduardo Cunha.
Agora, temos tempo para trazer este assunto, vital para o país, ao conhecimento público.
Mas, para isso, é preciso tirar da Petrobras a imagem que a mídia formou – e que nem de longe corresponde a uma empresa com a uma capacidade e organização corporativa –  e fazê-la recuperar o papel que realmente é o seu: o de indutora de uma cadeia de trabalho, tecnologia e produção como não existe outra na economia brasileira.
Com Sérgio Moro, Lava Jato, empreiteiros presos ou soltos, a Petrobras não pode parar, não pode “puxar o freio de mão”, ainda que, sim, tenha de ser seletiva naquilo que faz.
Sua nova direção, muito competente na hora de começar a reconquistar a “admiração de mercado” pela empresa, não pode ser apenas a que suspende contratos, paralisa obras,  adia projetos.
Nem ela, nem o BNDES, que põe dinheiro em investimentos de longo prazo de maturação, como são os de petróleo, podem permitir que  sobre nossa petroleira fique a marca de um fracasso que não existe, mas que passa a existir quando os estaleiros demitem aos magotes e um deles, o Mauá, manda os operários ficarem em casa, enquanto há três navios de derivados, praticamente prontos, atracados em seu cais, esperando  por conclusão.
Nem podemos ler desabafos dos que  foram e são parceiros, nacionais e estrangeiros, na grande aventura da transformação do Brasil em um dos maiores horizontes da riqueza petrolíera no século 21, como se lê no artigo do empresário Gustavo Pedreira sobre o drama das necessidades de financiamento em aberto para a construção de sondas de águas ultra-profundas no Brasil.
(…)sem receber pagamentos da Sete Brasil desde outubro/2014, os estaleiros se viram obrigados a cancelar contratos, descumprir acordos financeiros com seus fornecedores (locais e estrangeiros que aqui se instalaram) e demitir funcionários.”
É urgente que a Petrobras volte a ser vista como uma fonte de certezas e não de dúvidas para a cadeia produtiva do petróleo no Brasil.
Porque as multinacionais não perdem tempo: ontem mesmo a Shell pediu – sem sucesso, felizmente – que o uso de conteúdo local (equipamentos e serviços brasileiros) não fosse considerado na pontuação do próximo leilão de concessões de exploração, que não inclui áras do pré-sal mas vai deter grande parte das potenciais encomendas no setor nos próximos dois ou três anos.
Eles nem se preocupam em esconder: para eles, petróleo no Brasil é trazer um navio, espetar “o canudinho” e vender o óleo.
Mas nós temos o dever de mostrar ao povo brasileiro que o projeto Serra, em lugar de aliviar a Petrobras de dificuldades, vai é “aliviar”, noutro sentido, o Brasil de sua maior riqueza nos tempos de hoje.

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